O Evangelho de hoje narra-nos a história do jovem rico para quem Jesus fez um convite de segui-Lo mais de perto, com maior intensidade. Devemos não analisar propriamente o chamado específico que o Senhor fez àquele jovem, dado que a cada um Cristo pede uma forma de entrega conforme seu estado de vida e sua vocação. Devemos antes analisar que o amor e o seguimento de Jesus nos exigem renúncia e sacrifício. De fato, nosso amor por Deus e para o próximo deve brotar da Cruz de Cristo, pois como diz Santo Afonso de Ligório "todo amor que não nasce da Cruz de Cristo é frívolo e perigoso". Isso não significa que não devamos cultivar os amores e afetos naturais (amor filial, materno, conjugal, fraterno, etc), mas que devemos revesti-los da Caridade, do Ágape, o amor descendente que vêm de Deus em direção a nós. Assim, a Caridade leva-nos a renunciar e fazer sacrifícios pelo bem dos que amamos e para a maior Glória de Deus.
Esse sacrifício do amor é vivido de diversas formas, desde coisas pequenas como a mãe que deixa de dormir para dedicar-se ao filho doente ao mártir que renuncia a sua vida para não renegar o amor ao Redentor do gênero humano. De fato, viver os mandamentos e praticar as virtudes (resumidamente Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos) é uma certa forma de martírio, quotidiano e gradual. Isso se torna mais verdade se considerarmos com que intensidade Jesus mandou que exercêcemos a Caridade: com a mesma medida que ele nos amou, ou seja, até a entrega da própria vida.
Se por um lado o amor exige o sacrifício, por outro é ele também que dá significado e mérito ao sacrifício. É o amor com que fazemos nossas orações, obras e sacrifícios que os torna meritório diante de Deus. Claro que nosso amor é falho, imperfeito. Por isso que é importante unirmo-nos a Cristo na Missa para que a oferta de nosso amor seja aperfeiçoada pelo amor do próprio Jesus.
Por fim, deixo aqui um pequeno trecho das palavras que Deus dirigiu a Santa Catarina de Siena no Diálogo:
"Filha, fiz-te ver que a culpa não é reparada neste mundo pelos sofrimentos, mas sim pelos sofrimentos aceitos com amor, com desejo, com interna contrição. Não basta a força da mortificação; ocorre o anseio da alma. O mesmo acontece, aliás, com a caridade e qualquer outra virtude, que somente possuem valor e produzem a vida em meu Filho Jesus Cristo crucificado, isto é, na medida em que a pessoa dele recebe o amor e virtuosamente segue as suas pegadas. Somente assim adquirem valor. As mortificações satisfazem pela culpa na feliz comunhão do amor, adquirido na contemplação da minha bondade." (Diálogo, 2.2. Tradução de Fr. João Alves Basílio, OP. São Paulo: Paulus, 2007, p. 30)
Reconheçamos nossa fraqueza, nosso egoísmo, os vícios que nos prendem ao pó da terra e peçamos com humildade e confiança ao Senhor que aumente nossa Caridade, pois Ele é o próprio Amor e só nos entregando a Ele poderemos ser atingidos em nossa íntimo pelo salutar dardo de sua abrasada Caridade.
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