sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sacrilégio na Capela da Reitoria da UFPR!!!


Neste ano de 2012, a Universidade Federal do Paraná comemora 100 anos. Ano passado, por ocasião dos festejos de abertura do centenário, organizou-se a celebração de uma Missa Solene, celebrada pelo Arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom Moacyr José Vitti, que foi inclusive anunciada neste mesmo blog. Era a noite de 16 de dezembro de 2011, durante o tempo litúrgico do Advento. Compareci a Missa com minha namorada e minha mãe, que filmou toda a cerimônia (que ainda não consegui colocar no youtube por dificuldades na edição dos vídeos, qe estão em formato muito pesado). Contamos com a presença de um coral gregoriano e os estudantes da UFPR que frequentam a capela ajudaram nas diversas funções litúrgicas requeridas para uma celebração solene. Nela, o Arcebispo pronunciou uma bela homilia, falando da importância da Capela como "casa de oraçãopara todos povos" à luz da Profecia de Isaías (Is 56, 7). Após a missa, o Reitor da universidade expressou-se acerca da importância da Capela para a UFPR e do diálogo Igreja-Universidade.
Desde sua inauguração nos anos 1950, a Capela da Reitoria já congregou diversos grupos de fiéis católicos que encontrarm em seu âmbito de estudo um ambiente para crescerem juntos em sua Fé e receberem os santos sacramentos. Atualmente, somos em cerca de 10 pessoas. Assistíamos missa na Capela todas as terças-feiras durante os anos letivos. Rezávamos juntos e compartilhávamos experiências de vida e conversávamos sobre assuntos da Fé Católica.
Sabíamos vagamente da existência de projetos de reforma da Capela. No intuito de termos maiores informações, entramos em contato com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, que confessou não saber da existência de um grupo ativo de fiéis católicos na Capela. Tivemos um diálogo cordial e frutífero. Na reunião, expressei minha angústia com relação ao destino do altar ser destruído ou arrancado durante a reforma, haja vista ser um altar fixo, consgrado, com relíquias de mártires. Devido a nossas preocupações com relação aos objetos e elementos de culto da Capela, foi-nos garantido que seríamos informados dos projetos e andamentos da reforma.
Contudo, ao começar o ano, ficamos sabendo de forma inesperada que a reforma da Capela havia sido iniciada antes do prazo sem que nenhum de nós tivesse sido avisado. E qual não foi minha surpresa hoje ao acessar no site da Gazeta do Povo a notícia de que o altar da Capela havia sido destruído para as obras da reforma?! Leiam a reportagem:

“Estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) procuraram na manhã desta sexta-feira (20) a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná para reclamar das obras de restauração da capela do edifício da Reitoria iniciadas há poucos dias. A alegação dos alunos é que as reformas descaracterizaram o espaço que é tombado e está sob a responsabilidade da Coordenadoria do Patrimônio Cultural.

Depois da denúncia dos alunos, Rosina Parchen, coordenadora do Patrimônio Cultural, que não tinha conhecimento da reforma da capela, entrou em contato com a pró-reitoria da UFPR para pedir os projetos de restauração e apurar os dados fornecidos pelos alunos. O resultado dessa avaliação deve sair na próxima semana.

O fato é que a capela já foi demolida. O altar, as imagens, o local onde estava o órgão e o coreto foram destruídos. “Passei por lá e é mesmo de cortar o coração. Não só pelo desrespeito aos objetos da Igreja, mas também pela completa falta de noção do valor histórico e cultural daquele espaço”, lamenta Maria Isabel Bordini, aluna do curso de Letras.

De acordo com o pró-reitor de Administração da UFPR, Paulo Krüger, a reforma da Capela da Reitoria faz parte do projeto Corredor Cultural. A iniciativa, idealizada para a comemoração do centenário da universidade, prevê a revitalização do trajeto que une o edifício da Praça Santos Andrade à Reitoria, na Rua Doutor Faivre. “Não entendemos porque os alunos ficaram assustados. Essa capela não sofre reformas há muitos anos e queremos apenas restaurá-la”, afirmou. Perguntado sobre o fato da Coordenadoria de Patrimônio Cultural não ter sido procurada antes das reformas, Paulo disse que os projetos foram encaminhados assim que a Secretaria os requisitou, ou seja, na tarde desta sexta-feira.” ( Extraído de: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-universidade/ufpr100anos/conteudo.phtml?tl=1&id=1215117&tit=Reforma-na-capela-da-Reitoria-provoca-insatisfacao-entre-alunos )

Meu temor se concretizou! Iniciaram as reformas sem o mínimo de conhecimento do espaço sagrado, tendo destruído o altar santo, centro da Sagrada Liturgia, (Cf. Instrução Geral do Missal Romano, n. 296) como se fosse uma mobília ou uma mera parede! Isso é sacrilégio, além de violação do Artigo 5º da Constituição Federal, em seu item VI, e violação dos artigos 6º, 7º e 8º do Acordo firmado entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé em 2009. E o sr. Pró-reitor de Administração da UFPR ainda não entende por quê os alunos estão assustados?!! O centro do nosso culto foi tratado como lixo e reduzido a uma pilha de concretos! Parece pouco?! Se fosse o espaço sagrado de outra religião já haveriam protestos da mídia, dos artistas... mas é "só um altar católico"... há um forte clima de anticristianismo no meio público brasileiro, mascarado de cínico laicismo pseudo-libertador! Nada mais irônico considerando-se o enorme papel que a Igreja teve no surgimento das universidades no Ocidente, e em particular, que o clero católico desempenhou na história da Universidade Federal do Paraná!
Fomos desrespeitados enquanto cristãos, enquanto cidadãos, enquanto alunos da UFPR! Mas isso não nos importa! O que nos indigna é que as coisas sagradas foram profanadas, a honra de Deus foi ofendida e Sua Santa casa de Oração tratada com desprezo! Rezemos para que Deus tenha Misericórdia de todos nós e para que os magistrados civis façam justiça a esse desrespeito cometido contra o Culto Católico!
E que a Capela da Reitoria possa voltar a ser uma "Casa de Oração para todos os povos", o cenáculo da Santíssima Eucaristia, onde pelo Sacrifício da Missa Deus é glorificado por toda a Igreja!

Qual a função primordial do Poder público?


Não é sem motivo que São Paulo em sua carta aos Romanos usa o gladium, a espada, como símbolo do poder público secular. Diz ele: "Porque ela [a autoridade secular] é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal." - Dei enim minister est tibi in bonum si autem male feceris time non enim sine causa gladium portat Dei enim minister est vindex in iram ei qui malum agit (Rom 13, 4). Os filósofos clássicos, especialmente Aristóteles, já haviam apontado como razão de ser dos poderes e autoridades a salvanguarda do Bem Comum. O Apóstolo Paulo, à luz da Teologia cristã, esclarece mais acerca dessa função ao colocar a função primordial da autoridade secular como a a administração da justiça, do qual o aspecto mais latente seria garantir a punição dos malfeitores. Santo Agostinho e a Teoria Política medieval que bebeu de seus escritos salientou depois a necessidade da autoridade e do domínio secular na sociedade para refrear as más inclinações dos homens. Posteriormente São Tomás explicitará a relação entre esses dois aspcetos do poder político: a garantia do Bem Comum e a administração da Justiça.

Ora, o poder público existe para organizar o Bem Comum naquilo que os homens não são capazes de organizar individualmente. É claro que um homem pode, em certo grau, defender-se indiviudalmente de seus agressores, mas não se pode dizer o mesmo de administrar a justiça. Se cada um fizesse justiça com as prórpias mãos, a sociedade estaria reduzida a um estado caótico de permanente vingança, em uma cadeia interminável de acontecimentos. Para isso, portanto, o poder secular estabelece leis e punições para os que as violarem. Pois bem, até agora evitei de utilizar a palavra "Estado". Isso porque na linguagem moderna "Estado" geralmente significa o Estado burocratizante e centralizador moderno, que nem sempre existiu, ao contrário da autoridade e do poder secular que sempre existiu de alguma forma nas sociedades, primeiramente exercido pelos chefes das famílias e se desenvolvendo progressivamente a medida que as sociedades cresciam. Nesse sentido que diz-se que a família é anterior ao Estado, pois este surge desnevolvendo-se a partir dos núcleos de poder e autoridade surgidos no interior das sociedades que se organizaram a partir de conjuntos de famílias. Mas, continuemos: o Estado moderno e burocratizante é uma hecatombe, um monstro. Os Estados hoje em dia controlam muito mais áreas de nossas vidas do que os déspotas do Oriente antigo ou os monarcas absolutistas da Europa setecentista. Os discursos políticos e nossas aspirações com relações aos candidatos em eleições somente contribuíam para isso: estamos intoxicados pelas promessas do socialismo, da social-democracia, do welfare State, pela mentalidade clientelista de forma que pensamos no Estado como um provedor de bens, como aquele que deve cuidar de todos os setores da sociedade: a economia, a educação, a saúde. Basta lembrarmos: os jargões de nossos políticos: "fortalecer a economia", "criar empregos", "ampliar o atendimento à saúde", "abrir mais escolas", etc.

Contudo, esqueçemo-nos que o Estado existe para manter a Ordem e a Justiça, garantir segurança para que possamos nos desenvolver, devendo atuar nas outras áreas apenas de forma subsidiária. Basta vermos que essa ânsia do Estado por controlar tudo e atuar em tudo tem decurado da segurança pública: raramente vemos policiamento nas ruas, os policiais ganham pouco, criminosos dominam regiões inteiras de cidades (não digo de regiões afastadas e pouco habitadas, mas de cidades!!!)... o brasileiro quer emprego, quer educação, quer saúde, mas... sem segurança nada funciona direito! O Estado está impondo sua mão forte sobre tudo, menos onde realmente deveria fazer sentir o peso de sua mão. Queremos que o Estado volte a concentrar-se naquela função que é a sua função principal: invista na administração da Justiça e na punição dos malfeitores. Sim, punição! Nossa falta de segurança é também consequência da impunidade! Vamos parar de ser românticos. O bem-estar material não transforma ninguém em moçinho. O mal é um problema moral, não social ou institucional. A vida do homem sobre a terra é uma luta (Cf. Jó 7, 1), sempre haverão males a combater. Que nossos magistrados e políticos se conscientizem de seu verdadeiro dever e que os criminosos possam sentir todo o peso das palavras de São Paulo non enim sine causa gladium portat Dei enim minister est vindex in iram ei qui malum agit!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Política não se discute"?


Os que já receberam a acusação de estragarem conversações à mesa ou de trazerem assuntos enfadonhos à pauta talvez estejam se identificando com a frase que abre esta reflexão. Quando começamos a debater o assunto já somos tratados de estraga-prazeres ou de quebradores do clima pacífico da conversação. Já esboçam-se bocejos e cochilhos alheios no ar e alguns ares de reprovação ou indignação, porque o assunto trazido á tona é... Política! Recebemos então aquela reposta padrão apaziguadora dos ânimos: "Política não se discute". Bueno, às vezes virá acompanhada de futebol, ficando a oração assim: "Política e futebol não se discute"...
Quanto ao futebol, concordo. Não vejo a menor graça em uma acirrada disputa por uma bola... a mi me gustan los toros... é perfeitamente natural. Diversão, cada um escolhe o que mais lhe apetece. Contudo, política não é questão de diversão, muito menos questão pessoal. Não mesmo. É que talvez já estejamos anestesiados pela linguagem corriqueira e ao ouvirmos falar em "política" logo pensamos em "politicagem", jogos de interesses pessoais e na chaga da corrupção, que não é culpa da política. Não, cavalheiros! Estou a falar de "política" naquele sentido amplo, autêntico e verdadeiro, naquele sobre o qual sse debruçaram os mesmos homens que se dedicavam a investigar as excelsas questões da existência de Deus, da Metafísica, da moral, do funcionamento da Natureza, etc. Política vem da palavra grega pólis, que os gregos usavam para definir a cidade no seu sentido institucional e social. Pois bem, excetuando-se algumas oscilações de significado que a palavra sofreu ao longo dos séculos e distintos contextos históricos, a palavra "política" geralmente está associada à coisa pública, à vida pública e à atuação publica. Para a teoria política antiga e medieval, esses conceitos estavam igualmente associados a outra coisa: o Bem Comum. Assim, o objetivo dos governos para esses teóricos era garantir e promover o bem comum dos membros da sociedade. É ideal que os partícipes da sociedade participem e atuem das questões políticas, conforme as capacidades e conehcimentos de cada um, posto que o bem comum é algo que diz respeito a todos. Nesse sentido, é sempre um ato próximo da Tirania vetar a alguém o direito de se manifestar acerca de um assunto que pode lhe afetar. Igualmente, é pusilâmine pensar em alguém que não se manifesta acerca de algo que pode lhe afetar. Creio não ter sido muito claro sobre essa última frase. Vamos aprofundar.
É extremamente comum vermos as pessoas tecendo comentários sobre a situação política, sobre os problemas da sociedade, criticando o Governo e sempre colocando a culpa nos governantes e magistrados. Não duvido que eles muitas vezes tenham grande parcela de culpa em muitos desses problemas, mas cabe a nós lembrarmos também de nossas responsabilidades como cidadãos. Talvez eu possa ser um pouco duro no que vou dizer agora, mas... tu te lembras de quem votaste para deputado federal na última eleição? Aliás, tu sabes o que faz um deputado federal (é, eu sei que tem deputado por aí que não sabe, mas é pra ti que estou perguntando!)? Tu pesquisas o histórico e os posicionamentos dos candidatos? Acompanha as questões políticas? Se a resposta a todas estas perguntas for "não" então tu não tens o direito de reclamar da situação política! Simples! Se queremos uma política responsável, devemos começar pos nós mesmos! "Há, mas eu quero ficar só aqui no meu canto..." Me desculpe, então vá procurar um gruta eremítica! Na pólis, da civitas, vivemos em sociedade e a ação de um ou omissão de um afeta o outro e vice-versa. Infelizmente, alguns só se dão conta dessa basilar verdade quando alguma medida política os prejudica...
Mas voltando ao assunto, que já estava me perdendo... Política não é hobby, não é futebol... política é coisa séria, diz respeito às nossas vidas e a dos nossos vizinhos. Se é algo que nos diz respeito, temos todo o direito de nos manifestarmos de forma firme e segura! É claro que que há também na política uma hierarquia, uma escala de valores. Há valores inegociáveis e fundamentais como a dignidade humana, base de todos os demais direitos, bem como as questões morais, base de toda Justiça social. E há valores acidentais, sobre a forma de governo, sobre os mecanismos de participação popular, sobre política tributária, etc. Portanto, não convém dedicarmos a mesma paixão a todas essas questões. Não fica bem que cavalheiros discutam entre murros eufóricos sobre a Monarquia ou a República, mas é de se esperar que defendam com firmeza inquebrantável a Dignidade Humana e o Bem Comum como base de qualquer política sadia.
Espero que essas idéias soltas tenham contribuído para que possamos cultivar uma sadia e civilizada discussão política e que possamos refletir bem nesse ano eleitoral que se inicia. Perdoem-nos, mas enquanto houver males na política e na sociedade e tivermos razão para refletirmos sobre esses problemas e apontarmos soluções, continuaremos a estragar conversas de mesa.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Ensaio sobre tolerância


"Tolerância" é o grande mote das relações sociais de nossos tempos. A palavra soa como uma fórmula mágica, portadora de promessas de uma paz terrena que soa quase escatológica. O embasamento dessa noção de tolerância é o argumento do pluralismo. Contudo, como escreve o Arcebispo da Filadélfia, Charles J. Chaput em seu livro Render unto Caesar, o pluralismo é um fator demográfico e não uma ideologia, filosofia ou culto secular. Portanto, pulralismo não refere-se ao âmbito teórico, de uma crença, mas ao âmbito prático e moral. Assim, devemos tolerar e conviver no âmbito civil com pessoas que pensem ou tenham hábitos diferentes do que os nossos. Mas isso não implica em fingir que não hajam discordâncias ou calar essas discordâncias. Em outras palavras, é saber divergir sem levar para o lado pessoal. É próprio da mentalidade infantil transformar toda discordância em uma questão pessoal e querer resolver a mesma em uma briga física. O Arcebispo Chaput referia-se mais propriamente às crenças religiosas, mas podemos extender seu raciocínio às concepções de comportamento e moralidade também.
A noção moderna de "tolerância" só se aplica às teses progressistas, mas as opiniões conservadoras são proscritas dessa mesma lógica. Quando uma pessoa expressa uma tese conservadora, logo é acusada de estar promovendo o extermínio ou a violência contra os que discordam da tese enunciada. Basta vermos as reações que provocam as pregações do Papa em defesa da família ou da dignidade humana: chegam a adjetivar o Romano Pontífice de nazista e até mesmo de "genocida em potencial". Nada mais infantil. Vamos deixar de ser crianças e encarar as coisas com seriedade: o mundo moderno confunde tolerância com complacência. Tolerar o outro não significa aceitar como certo tudo aquilo que o outro faz ou prega e muito menos significa ser obrigado a calar-se acerca de tal discordância, oras!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Convite: Ordenação sacerdotal de Frei Roberto, OP, em Curitiba!

Será em 04/02/2012, às 16h, na Paróquia Santo Antônio, em Curitiba:

Batismo do Senhor: Sermão de São Gregório de Nazianzo


Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo (Ofício das Leituras para a festa do Batismo do Senhor, Liturgia das Horas)

(Oratio in sancta Lumina, 14-16. 20:PG 36, 350-351. 354. 358-359)

(Séc. IV)


"Cristo é iluminado no batismo, recebemos com ele a luz; Cristo é batizado, desçamos com ele às águas para com ele subirmos.


João batiza e Jesus se aproxima; talvez para santificar igualmente aquele que o batiza e, sem dúvida, para sepultar nas águas o velho Adão. Antes de nós, e por nossa causa, ele que é Espírito e carne santificou as águas do Jordão, para assim nos iniciar nos sacramentos mediante o Espírito e a água.

João reluta, Jesus insiste. Eu é que devo ser batizado por ti (cf. Mt 3,14), diz a lâmpada ao Sol, a voz à Palavra, o amigo ao Esposo, diz o maior entre todos os nascidos de mulher ao Primogênito de toda criatura, aquele que estremecera de alegria no seio materno ao que fora adorado no seio de sua Mãe, o que era e seria precursor ao que já tinha vindo e de novo há de vir. Eu é que devo ser batizado por ti. Podia ainda acrescentar: e por causa de ti. Pois sabia que ia receber o batismo de sangue ou que, como Pedro, não lhe seriam apenas lavados os pés.

Jesus sai das águas, elevando consigo o mundo que estava submerso, e vê abrirem-se os céus de par em par, que Adão tinha fechado para si e sua posteridade, assim como o paraíso lhe fora fechado por uma espada de fogo.

O Espírito, acorrendo àquele que lhe é igual, dá testemunho da sua divindade. Vem do céu uma voz, pois também vinha do céu aquele de quem se dava testemunho. E ao mostrar-se na forma corporal de uma pomba, o Espírito glorifica o corpo de Cristo, já que este, por sua união com a divindade, é o corpo de Deus. De modo semelhante, muitos séculos antes, uma pomba anunciara o fim do dilúvio.

Veneremos hoje o batismo de Cristo e celebremos dignamente esta festa.

Permanecei inteiramente puros e purificai-vos sempre mais. Nada agrada tanto a Deus quanto o arrependimento e a salvação do homem, para quem se destinam todas as suas palavras e mistérios. Sede como luzes no mundo, isto é, como uma força vivificante para os outros homens. Permanecendo como luzes perfeitas diante da grande luz, sereis inundados pelo esplendor dessa luz que brilha no céu e iluminados com maior pureza e fulgor pela Trindade. Dela acabastes de receber, embora não em plenitude, o único raio que procede da única Divindade, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém."

sábado, 7 de janeiro de 2012

São Raimundo de Peñafort, OP, sobre a paz dos corações


Hoje, na festa de São Raimundo de Peñafort, OP, presbítero e confessor (falecido em 1275), leiamos uma edificante carta do santo canonista (Extráida de: http://www.tesourosdaigrejacatolica.blogspot.com/2012/01/que-deus-pacifique-os-vossos-coracoes.html):

"Se todos os que quiserem levar uma vida fervorosa em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3,12), como afirma com toda sinceridade aquele Apóstolo que é chamado "pregador da verdade", a meu ver, ninguém está excluído desta norma geral, senão quem negligencia ou não sabe viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade (Tt 2,12).

Longe de vós serdes contados entre aqueles cujas casas estão em paz, tranquilas e seguras, sem que a mão do Senhor pese sobre eles; e que, depois de passarem agradavelmente os seus dias são, de repente, precipitados no inferno.

Vossa pureza e piedade merecem e exigem - já que sois aceitos e queridos por Deus - que esta pureza seja aprimorada por meio de repetidas provações até atingir a mais total sinceridade. Por conseguinte, se às vezes uma espada se duplica ou triplica sobre vós, deveis recebê-la com toda alegria, como sinal de amor.

A espada de dois gumes são os combates por fora e os temores por dentro. Ela se duplica ou triplica interiormente quando o espírito do mal inqueita o íntimo do coração com enganos e seduções. Mas vós conheceis muito bem este gênero de combates; de outra forma não teria sido possível conseguir esta perfeita paz e tranquilidade interior.

A espada se duplica ou triplica por fora quando, sem motivo, surge uma perseguição eclesiástica de assuntos espirituais; aqui as feridas são mais dolorosas porque vêm de amigos.

Esta é a desejável e bem-aventurada cruz de Cristo que o corajoso Santo André abraçou com alegria; segundo as palavras do Apóstolo chamado "instrumento escolhido", é somente nela que devemos nos gloriar.

Olhai, portanto, para Jesus, autor e consumador da fé (Hb 12,2); embora sendo inocente, padeceu por parte dos seus e foi contado entre os malfeitores (Is 53,12). Bebendo o cálice do Senhor Jesus, dai graças a Deus, doador de todos os bens.

Que este mesmo Deus do amor e da paz pacifique os nossos corações e apresse o vosso caminhar. Esconda-vos por enquanto, até vos introduzir e estabelecer naquela plenitude onde vivereis eternamente na beleza da paz, em morada segura e no repouso da abundância."

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Quem eram os magos do Evangelho?


O Evangelho de São Mateus, em seu segundo capítulo, narra que uns magos vieram do Oriente para adorar o recém-nascido Messias, seguindo a estrela que aparecera no céu. A palavra que aparece no original grego é magoi, que, embora em muitos trechos da Escritura seja utilizada para designar "magos" no sentido de praticantes de magia ou feitiçaria, também era utilizada para designar uma casta sacerdotal entre os Medos, um dos povos da Pérsia. A religião persa proibia a feitiçaria, portanto, os magos sacerdotes persas não eram praticantes dessas artes arcanas. A interpretação mais difundida era a de que os magos do Evangelho eram sacerdotes persas, e isto encontra fortes bases na Tradição dos Padres e na iconografia cristã primitiva.
Nos tempos de Jesus, a Pérsia era dominada pela dinastia dos partos. Os magos possivelmente possuíam influência na sociedade persa do momento, haja vista Estrabão relatar que integravam um dos conselhos do Império parto. Pelo contexto do relato evangélico podemos deduzir que magoi no referido relato refere-se aos sacerdotes persas, haja vista o fato de estarem seguindo uma estrela, o que indica o envonvimento com a astrologia, praticada pela dita casta sacerdotal. A Tradição não diz que eram reis, mas, segundo Tertuliano, que eram de estirpe régia (feres reges), o que é bastante verossímil, considerando que os magos já haviam feito parte da realeza na Pérsia e nos tempos de Cristo integravam o conselho real. A iconografia cristã dos primeiros séculos igualmente favorece essa hipótese, posto que sempre representa os magos vestidos com idumentária persa: com túnicas curtas, calças, capas e o tradicional gorro frígio usado pelos persas nos tempos da dinastia parta.
Quanto ao número, a Tradição não estabelece um consenso. Após o século VI, a exegese passa a considerar o número de três magos, deduzindo a partir do número de três oferendas relatadas no Evangelho: ouro, incenso e mirra. Esses três magos receberam nomes e foram fixados na celebração litúrgica do Martirológio. Como a Igreja é infalível na canonização, mas não nas hagiografias, isso significa apenas que três magos que visitaram o Menino Jesus são santos e gozam agora da bem-aventurança celeste: não significa indubitabilidade quanto so nomes simbólicos de Gaspar, Balthazar e Melchior que lhes foram atribuídos posteriormente, nem que somente estes três magos, cujas relíquias hoje se veneram na Catedral de Colônia, tenham sido os únicos a visitarem o Menino Jesus. Como se tratavam de homens de prestígio e o trajeto era longo, é bem provável que tenham viajado acompanhado de uma comitiva ou alguma caravana. Walter Drum considera que os presentes ofertados pelos magos ao Cristo tenham sido dados com intenções de suprir necessidades materiais do Menino, haja vista a família não ser abastada. Contudo, podemos supor que os magos tivessem intenções simbólicas também com os presentes, haja vista que confessavam aquele Menino como Messias e rei de Israel.
A exegese racionalista argumenta que o episódio dos magos é uma lenda inserida no Evangelho para realçar o caráter messiânico daquele que o Evangelista pretendia mostrar como o Cristo prometido. Contudo, o episódio dos magos, mesmo de um ponto de vista meramente racional, é bastante verossímil. Vejamos: os persas já tinham contato com os judeus pelo menos desde os tempos do rei Ciro II (aprox. 559 a 530 a. C.), e ainda nos tempos de Cristo existiam judeus vivendo na Pérsia, fora os contatos comerciais em todo o Oriente entre mercadores de ambas procedências. É perfeitamente concebível que magos oriundos da casta sacerdotal persa tenham tido contato com as profecias das Escrituras hebraicas e interpretado uma estrela ou outro fenômeno astronômico como um sinal de realização das mesmas profecias. Naturalmente que esse episódio tem também um sentido alegórico e transcedental: nesses magos persas estão representados todos os povos gentios da terra, que também haviam de ser chamados para Cristo e é precisamente este aspecto que celebramos com maior intensidade na Solenidade da Epifania; entretanto, isto não anula a historicidade do dato de uns magos vindos da Pérsia viajarem à Judéia em busca do Cristo que havia nascido. Os magos nos recordam que devemos buscar a Deus por meio da Revelação (estudaram, dentro de seus limites, as Escrituras) e da Razão natural (buscando o conhecimento da natureza, guiando-se pelo trajeto da estrela).

Referências:
DRUM, Walter. Verbete Reyes Magos. In: Enciclopedia Católica. Disponível em: http://ec.aciprensa.com/m/magos.htm
DIEHL, Rafael de Mesquita. Os reis magos na iconografia cristã. Disponível em: http://www.salvemaliturgia.com/2011/01/os-reis-magos-na-iconografia-crista.html

Homilia de São Gregório Magno para a Epifania do Senhor


"Tendo nascido o rei dos céus perturbou-se o rei da terra porque a grandeza desse mundo se aniquila no momento em que aparece a majestade do céu. Mas nos ocorre perguntar: que razões houveram para que imediatamente nascido o rei neste mundo nosso Redentor fora anunciado pelos anjos aos pastores da Judéia, e aos magos do Oriente não fora anunciado por anjos senão por uma estrela, para que viessem adorá-Lo?
Porque aos judeus, como criaturas que usavam de sua razão, devia anunciar-lhes esta notícia um ser racional, isto é, um anjo; e os gentios, que não sabiam fazer uso de sua razão, deviam ser guiados ao conhecimento de Deus, não por meio de palavras, senão por meio de sinais. De aqui que dissera São Paulo: “As profecias foram dadas aos fiéis, não aos infiéis; os sinais aos infiéis, não aos fiéis”, porque àqueles foram dadas as profecias como fiéis, não aos infiéis, e a estes foi dado sinais como a infiéis, não aos fiéis.
Deve-se notar também que os Apóstolos pregaram nosso Redentor aos gentios, quando já era de idade perfeita; e que enquanto foi menino, que não podia falar naturalmente, é uma estrela que o anuncia; a razão é porque a ordem racional exigia que os pregadores nos dessem a conhecer com sua palavra o Senhor que já falava, e quando todavia não falava O pregassem muitos elementos.
Devemos considerar em todos esses sinais que foram dados tanto ao nascer quanto ao morrer do Senhor, quanto deve ter sido a dureza de coração de alguns judeus, que não chegaram a conhecê-Lo nem pelo dom da profecia, nem pelos milagres.
Todos os elementos têm dado testemunho de que veio seu Autor. Porque, em certo modo, os céus o reconheceram como Deus, pois imediatamente que nasceu o manifestaram por meio de uma estrela. O mar o reconheceu sustentando-o em suas ondas; a terra o conheceu por estremeceu ao ocorrer sua morte; o sol o conheceu ocultado à hora se sua morte o esplendor de seus raios; os penhascos e os muros o conheceram porque ao tempo de sua morte se romperam; o inferno o reconheceu restituindo os mortos que conservava em seu poder. E ao que haviam reconhecido como Deus todos os elementos insensíveis, não o quiseram reconhecer os corações dos judeus infiéis e mais duros que os mesmos penhascos, os quais ainda hoje não querem romper-se para penitência e recusam confessar ao que os elementos, com seus sinais, declaravam como Deus.
E ainda eles, para o cúmulo de sua condenação, sabiam muito antes que havia de nascer Aquele que depreciaram quando nasceu; e não só sabiam que iria nascer, como também sabiam o lugar de seu nascimento. Porque perguntados por Herodes, manifestaram este lugar que haviam aprendido das Escrituras. Referiram ao testemunho em que se manifesta que Belém seria honrada com o nascimento deste novo líder, para que sua mesma ciência servisse a eles de condenação e a nós de auxílio para que creiamos.
Perfeitamente os designou Isaac quando abençoou ao seu filho Jacó, pois estava cego e profetizando, não viu em aquele momento a seu filho, a quem tantas coisas predisse para sucessivo; isto é, porque o povo judeu, cheio do espírito de profecia e cego de coração, não quis reconhecer presente Àquele de quem tanto se havia predito.
Logo que soube Herodes do nascimento de nosso Rei, recorre à astúcia com o fim de não ser privado de seu reino terreno. Suplica aos magos que lhe anunciassem ao seu retorno o lugar onde estava o Menino; simula que quer ir também a adorá-Lo, para que se pudera tê-Lo nas mãos pudesse tirar-lhe a vida. Mas de que vale a malícia dos homens contra os desígnios de Deus? Está escrito: “Não há sabedoria, nem prudência, nem conselho contra o Senhor”. Assim, a estrela que aparecera guiou os magos, que encontram o Rei nascido, Lhe oferecem seus dons e são avisados em sonhos para que não voltassem a ver Herodes, e desta maneira sucedeu que Herodes não pudera encontrar a Jesus, a quem buscava.
Quem está representado em Herodes senão os hipócritas, os quais, parecendo que suas obras buscam o Senhor, nunca merecem encontrar-Lo?

Os magos oferecem ouro, incenso e mirra: o ouro convém ao rei, o incenso se punha nos sacrifícios oferecidos a Deus; com a mirra eram embalsamados os corpos dos defuntos. Por conseguinte, com suas oferendas místicas pregam os magos ao que adoram: com ouro, como rei; com incenso como Deus, e com a mirra, como homem mortal.
Há alguns hereges que crêem em Jesus como Deus, porém negam seu reino universal; estes Lhe oferecem incenso, mas não querem oferecer-Lhe também o ouro. Há outros que Lhe consideram como rei, porém não O reconhecem como Deus: estes Lhe oferecem ouro e recusam oferecer-Lhe o incenso. E há alguns que o confessam como Deus e como rei, porém negam que tomou para Si a carne mortal: estes Lhe oferecem incenso e ouro, e recusam oferecer-Lhe a mirra da mortalidade.
Ofereçamos nós ao Senhor recém-nascido ouro, confessando que reina em todas as partes; ofereçamos-Lhe incenso, crendo que Aquele que se dignou aparecer no tempo era Deus antes de todos os séculos; ofereçamos-Lhe mirra, confessando que Aquele de quem cremos que foi impassível em sua divindade, foi mortal por ter assumido nossa carne.
No ouro, incenso e mirra pode dar-se outro sentido. Com o ouro se designa a sabedoria, segundo Salomão, o qual disse: “um tesouro desejável descansa na boca do sábio”. Com o incenso que se queima em honra de Deus se expressa a virtude da oração, segundo o Salmista, o qual diz: “Dirija-se até vós a minha oração como o incenso”. Pela mirra se representa a mortificação de nossa carne; daqui que a Santa Igreja diga dos trabalhadores que trabalham até a morte por Deus: “Minhas mãos destilaram mirra”.
Por conseguinte, oferecemos ouro ao nosso rei recém-nascido se resplandecemos em sua presença pela claridade da sabedoria celestial. Oferecemos-Lhe incenso, se consumimos os pensamentos carnais, por meio da oração, na ara de nosso coração, para que possamos oferecer ao Senhor um aroma suave por meio dos desejos celestiais. Oferecemos-Lhe mirra, se mortificamos os vícios da carne por meio da abstinência. A mirra, como foi dito, é um preservativo contra a putrefação da carne morta. A putrefação da carne morta significa a submissão deste nosso corpo mortal ao ardor da impureza, como disse o profeta de alguns: “Os jumentos apodreceram em seu próprio esterco” (Joel 1, 17). O entrar em putrefação os jumentos em seu próprio esterco significa os homens terminarem sua vida em torno da luxúria. Por conseguinte, oferecemos a mirra a Deus quando preservamos a este nosso corpo mortal da podridão da impureza por meio da continência.

Ao voltar os magos a sua terra por outro caminho distinto do que os trouxe nos manifestam uma coisa de suma importância. Pondo em obra a advertência que receberam em sonho, nos indicam que é o que nós devemos fazer.
Nossa pátria é o paraíso, ao que não podemos chegar, tendo conhecido Jesus, pelo caminho de onde viemos. Temos nos separado de nossa pátria pela soberba, pela desobediência, seguindo o chamariz das coisas terrenas e saboreando o manjar proibido; é necessário que voltemos a ela, chorando, obedecendo, desprezando as coisas terrenas e refreando os apetites de nossa carne. Por conseguinte, voltemos a nossa pátria por um caminho muito distinto, porque temos nos separado dos gozos do paraíso com os deleites da carne, volvemos a eles por meio de nossos lamentos.
Daqui que seja necessário, irmãos caríssimos, que com muito temor e tremor ponhamos sempre diante de nossa vista, por uma parte as culpas de nossas obras, e por outra o estreito juízo que nos há de submeter. Pensemos na severidade que há de vir o justo juiz, que nos ameaça com um estreitíssimo juízo e agora está oculto a nossa vista; que ameaça com severos castigos aos pecadores, e, não obstante, todavia os espera: que está dilatando sua segunda vinda para encontrar menos a quem condenar. Castiguemos com o choro nossas culpas, e evitemos sua presença por meio da confissão.
Não nos deixemos enganar por prazeres fugazes, nem tampouco nos deixemos seduzir por vãs alegrias. Não tardaremos em ver ao juiz que disse “Ai de vós que agora ris, porque gemereis e chorareis”. Por isso disse Salomão: “O riso será mesclado com a dor, e o fim dos gozos será ocupado pelo choro”. E em outro lugar disse: “Considerei o riso como um erro, e disse ao gozo: por que enganas em vão?”.
Temamos muito os preceitos de Deus, se com sinceridade celebramos as festas de Deus; porque é um sacrifício muito grato a Deus a aflição dos pecados como disse o Salmista: “O espírito atribulado é um sacrifício para Deus”. Nossos pecados antigos foram apagados ao receber o batismo; mas depois de recebido cometemos muitíssimos, porém não podemos voltar a nos lavar com sua água.
Posto que manchamos nossa vida depois de recebido o batismo, batizemos com lágrimas nossa consciência, para que, voltando à nossa pátria por caminho distinto do que levamos, nós que nos separamos dele pelo atraídos pelos bens terrenos voltemos a ele cheio de amargura pelos males que cometemos, com o auxílio de Nosso Senhor Jesus Cristo."

São Gregório I Magno, Papa e Doutor da Igreja. Homilia X in Evangelia. Tradução livre da tradução castelhana extraída de: http://www.statveritas.com.ar/Doctores%20de%20la%20Iglesia/SGregM-Epifania.htm