sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Política não se discute"?


Os que já receberam a acusação de estragarem conversações à mesa ou de trazerem assuntos enfadonhos à pauta talvez estejam se identificando com a frase que abre esta reflexão. Quando começamos a debater o assunto já somos tratados de estraga-prazeres ou de quebradores do clima pacífico da conversação. Já esboçam-se bocejos e cochilhos alheios no ar e alguns ares de reprovação ou indignação, porque o assunto trazido á tona é... Política! Recebemos então aquela reposta padrão apaziguadora dos ânimos: "Política não se discute". Bueno, às vezes virá acompanhada de futebol, ficando a oração assim: "Política e futebol não se discute"...
Quanto ao futebol, concordo. Não vejo a menor graça em uma acirrada disputa por uma bola... a mi me gustan los toros... é perfeitamente natural. Diversão, cada um escolhe o que mais lhe apetece. Contudo, política não é questão de diversão, muito menos questão pessoal. Não mesmo. É que talvez já estejamos anestesiados pela linguagem corriqueira e ao ouvirmos falar em "política" logo pensamos em "politicagem", jogos de interesses pessoais e na chaga da corrupção, que não é culpa da política. Não, cavalheiros! Estou a falar de "política" naquele sentido amplo, autêntico e verdadeiro, naquele sobre o qual sse debruçaram os mesmos homens que se dedicavam a investigar as excelsas questões da existência de Deus, da Metafísica, da moral, do funcionamento da Natureza, etc. Política vem da palavra grega pólis, que os gregos usavam para definir a cidade no seu sentido institucional e social. Pois bem, excetuando-se algumas oscilações de significado que a palavra sofreu ao longo dos séculos e distintos contextos históricos, a palavra "política" geralmente está associada à coisa pública, à vida pública e à atuação publica. Para a teoria política antiga e medieval, esses conceitos estavam igualmente associados a outra coisa: o Bem Comum. Assim, o objetivo dos governos para esses teóricos era garantir e promover o bem comum dos membros da sociedade. É ideal que os partícipes da sociedade participem e atuem das questões políticas, conforme as capacidades e conehcimentos de cada um, posto que o bem comum é algo que diz respeito a todos. Nesse sentido, é sempre um ato próximo da Tirania vetar a alguém o direito de se manifestar acerca de um assunto que pode lhe afetar. Igualmente, é pusilâmine pensar em alguém que não se manifesta acerca de algo que pode lhe afetar. Creio não ter sido muito claro sobre essa última frase. Vamos aprofundar.
É extremamente comum vermos as pessoas tecendo comentários sobre a situação política, sobre os problemas da sociedade, criticando o Governo e sempre colocando a culpa nos governantes e magistrados. Não duvido que eles muitas vezes tenham grande parcela de culpa em muitos desses problemas, mas cabe a nós lembrarmos também de nossas responsabilidades como cidadãos. Talvez eu possa ser um pouco duro no que vou dizer agora, mas... tu te lembras de quem votaste para deputado federal na última eleição? Aliás, tu sabes o que faz um deputado federal (é, eu sei que tem deputado por aí que não sabe, mas é pra ti que estou perguntando!)? Tu pesquisas o histórico e os posicionamentos dos candidatos? Acompanha as questões políticas? Se a resposta a todas estas perguntas for "não" então tu não tens o direito de reclamar da situação política! Simples! Se queremos uma política responsável, devemos começar pos nós mesmos! "Há, mas eu quero ficar só aqui no meu canto..." Me desculpe, então vá procurar um gruta eremítica! Na pólis, da civitas, vivemos em sociedade e a ação de um ou omissão de um afeta o outro e vice-versa. Infelizmente, alguns só se dão conta dessa basilar verdade quando alguma medida política os prejudica...
Mas voltando ao assunto, que já estava me perdendo... Política não é hobby, não é futebol... política é coisa séria, diz respeito às nossas vidas e a dos nossos vizinhos. Se é algo que nos diz respeito, temos todo o direito de nos manifestarmos de forma firme e segura! É claro que que há também na política uma hierarquia, uma escala de valores. Há valores inegociáveis e fundamentais como a dignidade humana, base de todos os demais direitos, bem como as questões morais, base de toda Justiça social. E há valores acidentais, sobre a forma de governo, sobre os mecanismos de participação popular, sobre política tributária, etc. Portanto, não convém dedicarmos a mesma paixão a todas essas questões. Não fica bem que cavalheiros discutam entre murros eufóricos sobre a Monarquia ou a República, mas é de se esperar que defendam com firmeza inquebrantável a Dignidade Humana e o Bem Comum como base de qualquer política sadia.
Espero que essas idéias soltas tenham contribuído para que possamos cultivar uma sadia e civilizada discussão política e que possamos refletir bem nesse ano eleitoral que se inicia. Perdoem-nos, mas enquanto houver males na política e na sociedade e tivermos razão para refletirmos sobre esses problemas e apontarmos soluções, continuaremos a estragar conversas de mesa.

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