quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Papa e o iPad, a Igreja e o Progresso



"Stultorum infinitus est numerus" (Liber Ecclesiastes 1, 15)

Acredito já ser de comum conhecimento que esta semana o Romano Pontífice postou seu primeiro tweet, por meio de um aparelho iPad[1], para divulgar o novo portal de notícias do Vaticano[2]. Pois bem, dito evento foi alvo de comentários maldosos internet a fora, acusando uma pretensa contradição nas atitudes do Papa, pois este estaria usando a tecnologia ao mesmo tempo que manteria posições "atrasadas" condenando outro "avanço tecnológico", o preservativo, vulgo camisinha.[3]

Passemos primeiro ao absurdo lógico do dito argumento, se é que assim podemos chamar tal categoria verborrágica de "argumento": pela tal linha de raciocínio, a aceitação de uma mudança técnica ou científica só seria coerente se se aceitasse as demais. Ou seja, enxerga-se as mudanças técnicas e científicas como um progresso contínuo e linear. Trata-se, pois de uma ideologia velha, atrasada, até mesmo esclerosada: o positivismo.[4] Ou seja, estão a defender uma idéia antiga com roupagem nova, com estultas pretensões de originalidade. Sabemos que não é assim. Ou acaso os ditos cujos que compactuam com tal comentário crêem ter sido a bomba atômica um avanço? E as câmaras de gás? E os experimentos médicos dos nazistas?

E é aí que entra a Igreja. A Igreja tem por função primordial prestar culto a Deus e guiar os homens no caminho da Salvação. Contudo, destituída de qualquer visão gnóstica ou maniqueísta, prega que as estruturas temporais, bem como as sociedades civis, devem ser impregnadas também dos valores cristãos. Munida desses princípios, a Igreja promoveu o progresso técnico e científico ao longo dos séculos. Os mosteiros preservaram e copiaram um grande acervo dos escritos gregos e romanos da Antiguidade. Abades, bispos e cabildos catedralícios promoveram a produção artística e musical (a propósito, a classificação das notas musicais na música ocidental deve-se ao monge Guido de Arezzo, que viveu no século XI). A Igreja instituiu hospitais e universidades por toda a Cristandade, bem como escolas e orfanatos. Muitos grandes cientistas, artistas e eruditos foram católicos e dentre eles muitos eram clérigos.
"Ah, mas a Igreja interferia na produção científica! E ainda hoje se mete em questões científicas, posicionando-se contra muitos avanços!" - poderiam objetar-me. Respondo: precisamente. A Igreja entende que o progresso técnico e científico não é um fim em si mesmo, mas um meio para promover e favorecer a dignidade humana. Consequentemente, a Igreja se opõe a todos os progressos científicos que atentem contra a dignidade humana: as pesquisas com células-tronco embrionárias (que atentam contra a inviolável dignidade da vida dos embriões humanos), os métodos contra-ceptivos, que violam a natureza e a normalidade do ato conjugal, as pesquisas eugenistas de engenharia genética, etc. O progresso científico-técnico deve estar subordinado ao bem da humanidade e não o contrário! Será que as últimas gerações não aprenderam o suficiente com as danosas experiências causadas pelas ideologias do século XX, essas novas formas de idolatria que a humanidade criou?!

Aliás, a Igreja não têm o direito de manifestar-se sobre o progresso técnico e científico desenvolvido pela humanidade? Vejamos: 1) a Igreja enquanto constituída por Cristo para pregar o Evangelho, tem o grave dever de pronunciar-se sempre contra a imoralidade, mesmo quando essa se dá fora de seu seio. O Papa Inocêncio III já dizia que o poder espiritual tinha o direito e o dever de interferir nas realidades temporais sempre que houvesse razão ou risco de grave pecado (rationis peccati); 2) a Igreja enquanto conjunto de homens que estão igualmente inseridos na sociedade civil tem sim o direito de manifestar-se enquanto membros da mesma sociedade e enquanto seres humanos, na medida em que se trata de assuntos que dizem respeito à humanidade.

Pois bem, tratemos agora do caso específico citado: o Papa e a internet. A internet, como qualquer meio de comunicação, é algo neutro: será boa ou má conforme o seu uso. Assim como pode ser usada para divulgar futilidades, devassidão e calúnias, pode também ser usada para transmitir a mensagem do Evangelho. Eu faço parte de uma geração que conheceu melhor a Doutrina da Igreja em grande parte graças aos recursos que outros católicos disponibilizaram e continuamente disponibilizam na rede. E é isso que Bento XVI têm falado: que os meios de comunicação devem ser usados pelos católicos para difundirem os ensinamentos da Santa Igreja, para darem testemunho de Jesus Cristo. Nesse sentido que o Santo Padre exortava os sacerdotes a criarem blogs para difundirem a Sagrada Doutrina, bem como exortava os jovens a divulgarem também os ensinamentos da Igreja em blogs e nas redes sociais. Assim, este blog é uma resposta ao chamado do Sumo Pontífice, o "Doce Cristo na Terra" como dizia Santa Catarina de Siena. Portanto, conclui-se que não há contradição nenhuma em o papa usar-se da teconologia de forma retamente ordenada e manter firme a Doutrina Moral da Igreja, pois, como vimos, o progresso tecnológico-científico não é um fim em si mesmo, devendo estar orientado para a promoção da dignidade humana, de acordo com a moral.

Notas:
[1] O Vídeo pode ser visto aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Uo3ljdpN5h4&feature=player_embedded
[2] O endereço do novo portal de notícias do Vaticano: http://www.news.va/en
[3] Os ditos comentários circularam no twitter do jornalista e apresentador de televisão Marcelo Tas.
[4] A ideologia positivista, criada por Auguste Comte no século XIX, sustentava que a História da Humanidade era um progresso linear contínuo dividido em 3 etapas: a etapa de mentalidade teológica, a etapa da mentalide metafísica, e a etapa da mentalide científica ou positiva, de onde se tira o nome positivismo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

60 anos de sacerdócio de Bento XVI


Em 29 de junho de 1951 era ordenado sacerdote o jovem Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI. Demos graças a Deus pelos 60 anos de ministério sacerdotal de nosso Papa e aproveitemos esse dia para rezar pelo Romano Pontífice, para que possa sempre ter as graças necessárias para exercer de forma exemplar seu ministério sacerdotal, ele que é o primeiro dentre os sacerdotes da Santa Igreja.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Formação em Porto Alegre


(Clique para ampliar a imagem)

A Divindade e a Humanidade de Cristo


No Evangelho do dia de hoje (Mt 8, 23-27), vemos no episódio da barca a revelação da humanida e da divindade de Jesus Cristo. O sono e o cansaço, que fazem com que Jesus esteja dormindo na barca, mostra que ele compartilha verdadeiramente conosco a natureza humana (excetuando o pecado), possuíndo necessidades físicas e psicológicas humanas. Mas ao mesmo tempo, Jesus é capaz de interromper o curso das leis naturais por um simples comando de sua voz. Aí vemos a divindade do Cristo, posto que Ele comanda a Criação por seu próprio poder (a Escritura relata que Ele simplesmente ordenou, não o fez mediante a inocação de Deus ou por meio de um anjo, fez por Si próprio e o único ser capaz de fazer milagres por seu próprio poder é Deus Onipotente). Os apóstolos viam com seus olhos carnais apenas um homem, mas espantavam-se pelo fato de a esse homem toda a Criação obedecer. Assim, depois acabaram compreendendo que Ele era o Verbo Eterno de Deus, que nEle e com Ele viva na unidade do Espírito Santo.
Que pela graça de Deus possamos confessar firmemente a fé na Pessoa de Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, Nosso Salvador.

"Seguindo então, aos Santos Padres, unanimemente ensinamos a confessar um solo e mesmo Filho: nosso senhor Jesus Cristo, perfeito em sua divindade e perfeito em sua humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (composto) de alma racional e de corpo, consubstancial ao Pai pela divindade, e consubstancial a nós pela humanidade, similar em tudo a nós, exceto no pecado, gerado pelo Pai antes dos séculos segundo a divindade, e, nestes últimos tempos, por nós e por nossa salvação, engendrado na Maria virgem e mãe de Deus, segundo a humanidade: um e o mesmo Cristo senhor unigênito; no que têm que se reconhecer duas naturezas, sem confusão, imutáveis, indivisas, inseparáveis, não tendo diminuído a diferença das naturezas por causa da união, mas sim mas bem tendo sido assegurada a propriedade de cada uma das naturezas, que concorrem a formar uma só pessoa. Ele não está dividido ou separado em duas pessoas, mas sim é um único e mesmo Filho Unigênito, Deus, Verbo, e Senhor Jesus Cristo como primeiro os profetas e mais tarde o mesmo Jesus Cristo o ensinou que si e como nos transmitiu isso o símbolo dos padres." (Definição de Fé do Concílio de Calcedônia, ano 451)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

"Ele é que deve crescer, e eu diminuir" (Jo 3,30)


"O maior dos homens foi enviado para dar testemunho d'Aquele que era mais que um homem. Com efeito quando aquele que «é o maior de entre os nascidos de mulher» (cf Mt 11,11) diz: «Eu não sou o Messias» (Jo 1,20) e se humilha face a Cristo, temos de entender que há em Cristo mais que um homem. [...] «Sim, todos nós participamos da Sua plenitude, recebendo graça sobre graça» (Jo 1,16). Que quer dizer «todos nós»? Quer dizer os patriarcas, os profetas e os santos apóstolos, aqueles que precederam a Incarnação ou que foram enviados depois pelo próprio Verbo incarnado, «todos nós participamos da Sua plenitude». Nós somos recipientes, ele é a fonte. Portanto [...], João é homem, Cristo é Deus: é preciso que o homem se humilhe, para que Deus seja exaltado.

Foi para ensinar o homem a humilhar-se que João nasceu no dia a partir do qual os dias começam a decrescer; para nos mostrar que Deus deve ser exaltado, Jesus Cristo nasceu no dia em que os dias começam a aumentar. Há aqui um ensinamento profundamente misterioso. Nós celebramos a natividade de João como celebramos a de Cristo, porque essa natividade está cheia de mistério. De que mistério? Do mistério da nossa grandeza. Diminuamo-nos em nós próprios para podermos crescer em Deus; humilhemo-nos na nossa baixeza, para sermos exaltados na Sua grandeza."


Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 289, 3º para a Natividade de João Baptista.
Extraído de: http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=commentary&localdate=20110624

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Eucaristia e a humildade


"Eis que se humilha diariamente, como quando veio do trono real (Sb 18, 15) ao útero da Virgem; vem diariamente a nós ele mesmo aparecendo humilde; des­ce todos os dias do seio do Pai (cfr. Jo 6,38; 1,18) sobre o altar nas mãos do sacerdote." (São Francisco de Assis. Admoestationes, I, 16-18)


Hoje que a Igreja celebra a Solenidade de Corpus Christi, é oportuno fazermos uma reflexão acerca do testemunho silencioso que encerra o Santíssimo Sacramento. De fato, Jesus Cristo sendo Deus consubstancial ao Pai e ao Espírito Santo, humilhou-se na Sua Encarnação, ao assumir a frágil condição humana, e ao viver na obediência, como servo (Fl 2, 6-11). Mas também na Sagrada Eucaristia, na qual o Senhor renova a obra da Redenção, Ele renova também a sua humilhação. Alguns autores usaram mesmo o termo grego kenosis, "aniquilamento", para definir esse ato de humildade de Jesus na Eucaristia. Pois consideremos que ele é Deus Todo-Poderoso, Rei e Senhor do Universo, Santíssimo, e que desce dos Céus sob o aspecto inofensivo do pão e do vinho, a tal ponto que se deixa ser carregado pelos homens, e mesmo expondo-se ao risco de profanação! Aparece na Eucaristia como cordeiro manso do sacrifício, tal como na Sua Paixão.

"Aí o tens: é Rei de Reis, e Senhor de Senhores. - Está escondido no Pão.
Humilhou-se até esse extremo por amor de ti." (São Josemaría Escrivá. Caminho, 538)


Assim, mesmo estando aparentemente passivo escondido sob o véu das aparências de pão e do vinho, o Senhor nos dá um grandioso testemunho de humildade. Que ao contemplarmos o Santíssimo Sacramento, sejamos humildes, reconheçamos nossos pecados, fraquezas e imperfeições e roguemos a Jesus, modelo de humildade, que nos ajude a sermos mais humildes e a abrirmos nossas fraquezas para Sua Graça afim de que por ela sejamos fortalecidos. E que, nesse espírito de humildade, saibamos examinar bem nossa consciência afim de não receber este excelso Sacramento se estivermos em estado de pecado mortal, fazendo comunhão espiritual expressando o desejo de receber o Senhor dignamente e pedindo a Ele a Graça de um arrependimento firme e sincero, bem como de uma santa confissão. E, quando estivermos em estado de graça, peçamos a Ele que aumente sempre a nossa Graça, a fim de nos fortalecer no Amor e na prática das virtudes.

Por fim, lembremos sempre de ao passarmos diante de um Sacrário onde Cristo estiver presente de confessar-Lhe "Senhor, eu creio! Mas aumenta a minha Fé!"

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um lembrete aos magistrados brasileiros...


A propósito das recentes decisões imorais do Supremo Tribunal Federal, das quais as últimas foram reconhecer novas configurações de "família" (quais novas categorias inventarão nos próximos anos?), bem como a liberalização da "marcha da maconha", uma clara afronta à família brasileira, em especial aquelas que sofrem com o flagelo das drogas, julguei oportuno lembrar as palavras do Salvador "a quem muito for dado, muito será cobrado" (Lc 12, 47-48). É falso que Deus julgará a todos com igualdades, posto que julgará cada um segundo suas circunstâncias, capacidades e responsabilidades. Neste sentido, os príncipes, governantes e magistrados dos povos têm uma enorme responsabilidade, pois seus atos e decisões afetam a muitas pessoas. Pecam de duas formas os governantes que legislam e governam contra a Lei Divina e a Lei Natural: primeiramente, pela desobediência e segundo, pelo exemplo que dão aos que lhe estão sujeitos.
A desculpa de que "o Estado é laico" não poderá salvar os maus governantes e magistrados no dia do Juízo (até porque a moral é de Lei Natural, não é necessário a Revelação para conhecê-la, embora a Revelação possa elevá-la á perfeição pela Caridade cristã), haja vista que Jesus Cristo é "Rei dos Reis e Senhor dos Senhores" (Ap 19, 16) e d'Ele todas as autoridades recebem o poder de governar em Seu Nome (Cf. Rm 13, 1-7; Jo 19, 10-11) e por isso é principalmente a Deus que deverão prestar conta de seus atos.
Por fim, exorto a todos os homens públicos e constituídos de autoridade que reflitam sobre aquela salutar frase pronunciada no rito de coroação dos Romanos Pontífices enquanto o diácono queimava uma pequena palha diante dos mesmos: Sic transit gloria mundi ("assim passa a glória do mundo").
Segue abaixo, uma oportuna exortação de São Francisco de Assis, que diante dos sarracenos havia se proclamado "O Arauto do Grande Rei e a trombeta do Imperador", dirigida aos governantes e magistrados de seu tempo, mas que se aplica perfeitamente aos dias de hoje:

"1. A todos os podestás e cônsules, juizes e governadores em toda a terra e a todos os outros aos quais chegar esta carta, Frei Francisco, vosso servo pequenino e desprezível no Senhor Deus, desejando a todos vós saúde e paz.
2. Considerai e vede que o dia da morte se aproxima (cfr. Gn 47,29).
3. Por isso eu vos rogo com reverência, como posso, que, por causa dos cuidados e solicitudes deste século (cfr. Mt 13,22), que tendes, não entregueis o Senhor ao esquecimento nem vos desvieis de seus mandamentos, porque todos aqueles, que o entregam ao esquecimento e se desviam de seus mandamentos são malditos (cfr. Sl 118,21) e serão por ele lançados no esquecimento (Ez 33,13).
4. E, quando chegar o dia da morte, tudo que julgavam ter lhes será tirado (cfr. Lc 8,18).
5. E, quanto mais sábios e poderosos tiverem sido neste século, tanto maiores tormentos suportarão no inferno (cfr. Sb 6,7).
6. Por isso firmemente vos aconselho, senhores meus, que, pondo de lado todo cuidado e preocupação, benignamente recebais tanto o santíssimo corpo como o santíssimo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo em sua santa comemoração.
7. E que consagreis tanta honra ao Senhor no povo a vós confiado, que cada tarde se anuncie por um pregoeiro ou por outro sinal, pelo qual sejam dados louvores e graças ao Senhor Deus onipotente por todo o povo.
8. E, se isso não fizerdes, sabei que devereis dar contas diante do vosso Senhor Deus Jesus Cristo no dia do juízo (cfr. Mt 12,36).
9. Os que guardarem consigo este escrito e o observarem, saibam que são abençoados pelo Senhor Deus." (São Francisco de Assis, OMin. Epistola ad populorum rectores. Circa 1220. Extraído de: http://www.procasp.org.br/paragrafo_subcapitulo.php?titulo=Carta%20aos%20governadores%20dos%20povos&cSubCap=25&vertudo=1)


LAUS TIBI CHRISTE REX AETERNE GLORIAE

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A vida espiritual de acordo com o estado de vida


"Um bispo não deve nem pode viver como um cartuxo; os casados, como os capuchinhos; os artesãos, como os religiosos contemplativos, que passam metade do dia e metade da noite em oração. Seria uma piedade tola e ridícula. Cada um segundo a sua espécie. Deus deseja todos os frutos. A verdadeira piedade não destrói, mas enobrece e embeleza." (São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Santo Antônio e a pregação aos peixes


"Do milagre que Deus fez quando Santo Antônio, estando em Rimini, pregou aos peixes do mar.

Querendo Cristo bendito demonstrar a grande santidade de seu fidelíssimo servo monsior Santo Antônio, e como se devia ouvir devotamente sua pregação e sua doutrina santa, pelos animais irracionais, uma vez entre outras, isto é, pelos peixes, repreendeu a insensatez dos infiéis heréticos, como no velho Testamento tinha repreendido a ignorância de Balaão pela boca de uma burra.

Estando certa vez Santo Antônio em Rimini, onde havia uma grande multidão de hereges, querendo reconduzi-los à luz da verdadeira fé e ao caminho da verdade, pregou-lhes por muitos dias e disputou sobre a fé de Cristo e sobre a Santa Escritura. Mas como eles, não só não consentiram com suas santas palavras mas até, como endurecidos e obstinados, não quiseram ouvi-lo, Santo Antônio, um dia, por divina inspiração foi para a beira de um rio ao lado do mar.

Estando assim na margem entre o rio e o mar, começou a dizer, como numa pregação, da parte de Deus para os peixes: “Ouvi a palavra de Deus, vós, peixes do mar e do rio, pois os infiéis hereges não querem ouvir”. Quando ele falou assim, subitamente veio à margem uma multidão tão grande de peixes, grandes, pequenos e médios, que nunca se viram tantos nem naquele mar nem naquele rio. E todos mantinham a cabeça fora da água, e todos estavam atentos para o rosto de Santo Antônio, todos na maior paz, mansidão e ordem, pois, na frente e perto da margem estavam os peixinhos menores, e depois deles estavam os peixes médios, depois, atrás, onde a água era mais funda, estavam os peixes maiores.

Estando, portanto, colocados os peixes nessa ordem e disposição, Santo Antônio começou a pregar solenemente e disse assim:

“Meus irmãos peixes, vós tendes muito que agradecer ao vosso Criador, de acordo com a vossa possibilidade, porque vos deu um elemento tão nobre para vossa habitação, de modo que, como vos agrada, tendes águas doces e salgadas, e vos deu muitos refúgios para escapardes das tempestades. Deu-vos ainda um elemento claro e transparente e comida para vós poderdes viver. Deus nosso criador, cortês e benigno, quando vos criou, deu a ordem de crescer e de vos multiplicardes, e vos deu sua bênção. Pois quando houve o dilúvio geral e todos os outros animais morreram, Deus preservou só a vós sem dano. E ainda vos deu as barbatanas para irdes aonde quiserdes. A vós foi concedido, por ordem divina, guardar o profeta Jonas e no terceiro dia jogá-lo na terra, são e salvo. Vós oferecestes o dinheiro do censo para nosso Senhor Jesus Cristo, que ele, como pobre, não podia pagar. Vós fostes comida do eterno rei Jesus Cristo antes e depois da ressurreição, por um singular mistério. Por todas essas coisas tendes muito o dever de louvar e bendizer Deus, que vos deu tais e tantos benefícios, mais do que às outras criaturas”.

Diante destas e outras palavras e ensinamentos de Santo Antônio, os peixes começaram a abrir a boca e inclinaram as cabeças. Com esses e outros sinais de reverência, como lhes era possível, louvaram a Deus. Então Santo Antônio, vendo tanta reverência dos peixes diante de Deus criador, alegrando-se em espírito, disse em voz alta: “Bendito seja Deus eterno, pois os peixes da água honram-no como não o fazem os homens hereges, e ouvem melhor a sua palavra os animais irracionais que os homens infiéis”. E quanto mais Santo Antônio pregava, mais crescia a multidão dos peixes, e nenhum saía do lugar que tinha tomado.

Diante desse milagre, começou a acorrer o povo da cidade, e vieram até os sobreditos hereges que, vendo o milagre tão maravilhoso e manifesto, compungidos no coração, lançavam-se todos aos pés de Santo Antônio para ouvir a sua pregação.

Então Santo Antônio começou a pregar sobre a fé católica, e pregou tão nobremente, que converteu todos aqueles hereges, e eles voltaram à verdadeira fé de Cristo. E todos os fiéis ficaram confortados e fortificados na fé, com enorme alegria. E, feito isso, Santo Antônio despediu os peixes com a bênção de Deus, e todos foram embora com maravilhosos atos de alegria, e, de maneira semelhante, também o povo. Depois, Santo Antônio esteve em Rimini por muitos dias, pregando e fazendo muito fruto espiritual de almas.
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém."


(I Fioretti de São Francisco, cap. XL)

domingo, 12 de junho de 2011

Sermão de Pentecostes de São Leão Magno






"Todos os corações sabem, caríssimos, que a solenidade de hoje deve ser celebrada como uma das festas mais importantes. Ninguém ignora ou contesta a reverência com que se deve festejar este dia, consagrado pelo Espírito Santo com o milagre excelente de seu dom. Sendo, na verdade, o décimo dia depois daquele em que o Senhor subiu ao céu, para se assentar à direita de Deus, refulge como o dia qüinquagésimo após a sua Ressurreição, e traz em si grandes mistérios, referentes a antigos e novos sacramentos, na mais clara manifestação de que a Graça foi prenunciada pela Lei e a Lei cumprida pela Graça. Sim, do mesmo modo como outrora, no monte Sinai, a Lei fora dada ao povo hebreu, libertado dos egípcios, no dia qüinquagésimo após a imolação do cordeiro, assim também, após a Paixão de Cristo, imolação do verdadeiro Cordeiro de Deus, é no qüinquagésimo dia desde sua Ressurreição que se infunde o Espírito Santo nos apóstolos e na multidão dos fiéis. O cristão diligente facilmente vê como os inícios do Antigo Testamento serviram aos primórdios do Evangelho, e como a segunda Aliança foi criada pelo mesmo Espírito que instituiu a primeira.

Com efeito, diz a narrativa dos apóstolos:

“Como se completassem os dias de Pentecostes e estivessem todos os discípulos juntos no mesmo lugar, repentinamente se fez ouvir do céu um ruído como o de vento que soprava impetuosamente, e encheu toda a casa onde estavam. Apareceram-lhes então como línguas de fogo, que se puseram sobre cada um deles; e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia falarem” (At 2, 1-4).

É veloz a palavra da Sabedoria, e onde Deus é o Mestre quão rapidamente se aprende a doutrina! Não houve necessidade de interpretação para o entendimento, não houve aprendizado, não houve prazo para estudo, mas, assim que o Espírito da verdade soprou como quis, as línguas particulares dos diversos povos se tornaram comuns na boca da Igreja.

A partir desse dia ressoou a trombeta da pregação evangélica. A partir desse dia as chuvas de graças, os rios das bênçãos irrigaram todos os desertos e a terra inteira, pois a fim de renovar sua face “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2). E, para a expulsão das trevas de antes, coruscavam os relâmpagos da nova Luz no esplendor das línguas flamejantes. Assim se manifestava a luminosa e ígnea palavra do Senhor, dotada da eficácia de iluminar e da força de abrasar, necessárias ao entendimento e à destruição do pecado.

Porém, caríssimos, embora tenha sido admirável a própria aparência desses acontecimentos e não haja dúvida de que a majestade do Espírito Santo tenha estado presente à harmonia exultante das vozes humanas, não se pense que apareceu a sua divina essência naquilo que se mostrou aos olhes corporais. A natureza invisível e comum ao Pai e ao Filho manifestou a qualidade de seu dom e de sua obra por meio do sinal de santificação que bem lhe aprouve, mas conteve em sua divindade a propriedade de sua essência.

Assim como a visão humana não pode perceber o Pai e o Filho também não percebe o Espírito Santo. Na Trindade, com efeito, nada é dissemelhante, nada é desigual, e todas as coisas que se possam pensar a respeito dessa substância não se distinguem pela excelência, pela glória ou pela eternidade. É verdade que, conforme as propriedades das Pessoas, um é o Pai, outro o Filho, outro o Espírito Santo, mas não há divindade diferente, natureza distinta. Assim como o Filho precede do Pai, igualmente o Espírito Santo é Espírito do Pai e do Filho. Não como as criaturas, que são também do Pai e do Filho, mas como alguém que, como ambos, vive, é poderoso e existe eternamente, desde que existem o Pai e o Filho. Por essa razão o Senhor, quando prometeu a vinda do Espírito Santo aos discípulos, antes do dia da Paixão, disse:

“Ainda muitas coisas vos tenho a dizer: quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá para toda a verdade. Pois não falará de si mesmo, mas falará o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que deverão suceder. Tudo o que o Pai tem é meu; per isto disse que receberá do que é meu e vos anunciará” (Jo 16, 12-13.15).

O Pai, portanto não tem algo que não o tenham o Filho ou o Espírito Santo. Tudo o que tem o Pai, tem o Filho e tem o Espírito Santo. Nunca faltou na Trindade essa perfeita comunhão; nela são uma mesma coisa “tudo possuir” e “sempre existir”. Não imaginemos sucessão de tempo na Trindade, não imaginemos gradações ou diferenças. Se, de um lado não se pode explicar o que Deus é, de outro não se ouse afirmar o que Deus não é. Seria melhor deixar de discorrer sobre as propriedades da natureza inefável de Deus, do que afirmar o que não lhe convém. O que concebem, pois, os corações piedosos a respeito da glória eterna e imutável do Pai, entendam-no ao mesmo tempo do Filho e do Espírito Santo, de um modo inseparável e sem diferença. Nossa confissão é ser a Trindade um só Deus, já que nas três Pessoas não existe diversidade de substancia, poder, vontade ou operação.

Assim, se reprovamos os arianos, que pretendem existir diferença entre o Pai e o Filho, reprovamos igualmente os macedonianos, os quais, embora atribuindo igualdade entre o Pai e o Filho, pensam que o Espírito Santo seja de natureza inferior. Eles não vêem estarem incidindo naquela blasfêmia indigna de ser perdoada tanto no século presente como no futuro, consoante a palavra do Senhor:

“A todo o que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas ao que disser contra o Espírito Santo não será perdoado nem neste século nem no vindouro” (Mt 12, 32).

Quem permanece, portanto, nessa impiedade fica sem perdão, pois expulsou de si aquele por meio do qual seria capaz de confessar a verdadeira fé. Jamais se beneficiará do perdão quem não tiver advogado para protegê-lo.

Ora, é do Espírito Santo que procede em nós a invocação do Pai, dele são as lágrimas dos penitentes, dele os gemidos dos que suplicam, “… e ninguém pode dizer Senhor Jesus senão no Espírito Santo” (I Cor 12, 3).

O Apóstolo prega de maneira evidente a onipotência do Espírito, igual à do Pai e do Filho, bem como sua divindade, ao dizer:

“há diversidade de graças, mas um mesmo é o Espírito; e há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor; e há diversidade de operações, mas um mesmo é o Deus que opera tudo em todos” (I Cor 12, 4-6).

Por estes e outros documentos, através dos quais, de inumeráveis modos brilha a autoridade das palavras divinas, sejamos incitados, caríssimos, unanimemente, à veneração de Pentecostes, exultando em honra do Santo Espírito, por quem toda a Igreja é santificada e toda alma racional é penetrada. Ele é o inspirador da fé, o Mestre da ciência, a fonte do amor, o selo da castidade, o artífice de toda virtude.

Regozijem-se as mentes dos fiéis com o fato de, em todo o mundo, ser louvado pelas diferentes línguas o Deus uno, Pai, e Filho e Espírito Santo; com o fato de prosseguir em seu trabalho e dom aquela santificação que apareceu na chama do fogo. O mesmo Espírito da verdade faz refulgir com sua luz a morada de sua glória, nada querendo de tenebroso ou morno em seu templo.

Foi também por auxílio e instrução desse Espírito que recebemos a purificação do jejum e da esmola. Com efeito, segue-se ao venerável dia de hoje um costume de salutar observância, que os santos julgam de grande utilidade e nós vos exortamos, com pastoral solicitude, a que o celebreis com o maior zelo possível. Assim, se a negligência vos fez contrair em dias passados algo de pecaminoso, seja isto penitenciado pela censura do jejum e pelo devotamento da misericórdia. Jejuemos na quarta e na sexta-feira, para sábado celebrarmos juntos as vigílias, com a habitual devoção. Por Cristo, Nosso Senhor que vive e reina com o Pai e o Espírito santo, pelos séculos dos séculos. Amém."

São Leão I Magno, Papa e Doutor da Igerja. Sermão de Pentecostes. Extraído de: http://mercaba.wordpress.com/2008/07/12/sermao-sobre-pentecostes/

sábado, 11 de junho de 2011

O dois envios do Espírito Santo


A Liturgia da Missa da Solenidade de Pentecostes nos apresenta em suas leituras um aparente paradoxo: o Espírito Santo é enviado aos apóstolos duas vezes, uma na tarde da Ressurreição (Jo 20, 19-23) e outra no dia de Pentecostes (At 2, 1-11). Por que o Espírito Santo é enviado primeiramente por Jesus aos apóstolos na tarde da ressurreição, quando ainda estava no mundo, e é depois novamente enviado dos Céus aos apóstolos como narra os Atos dos Apóstolos? No intuito de resolver essa aparente contradição, fui buscar respostas nos ensinamentos do Bem-aventurado João Paulo II sobre o Espírito Santo em sua Encíclica Dominum et vivificantem, bem como nos comentários dos Padres da Igreja ao capítulo 20 do Evangelho de São João, compilados por São Tomás de Aquino em sua obra Catena Aurea. Assim, elenco algumas considerações:

I - A forma de efusão: São João Crisóstomo explica que quando Jesus soprou o Espírito Santo sobre os apóstolos, estava infundindo-lhes a graça para preprár-los para receber o Espírito em plenitude no Pentecostes (Cf. Crisóstomo, Ut supra. apud: Catena Aurea). Portanto, a primeira efusão do Espírito Santo era para transmitir a Graça e a efusão de Pentecostes, em plenitude, foi para transmitir os Dons do Parácilto aos apóstolos.

II - Manifestação da procedência ex Patre Filioque: Santo Agostinho comenta que o Espírito foi enviado por Cristo ainda desse mundo e depois dos Céus para mostrar que o Paráclito procedia tanto do Pai quanto do Filho (Cf. Agostinho, De Trinitate, 4, 20. apud: Catena Aurea).

III - Envio pessoal e envio público: o Papa Beato João Paulo II, apoiando-se no que fora exposto nos textos do Concílio Vaticano II, explica que o primeiro envio é dirigido pessoalmente aos apóstolos enquanto o segundo é dirigido também aos apóstolos, mas em vista de manifestar a ação do Espírito por meio da Igreja para todo o mundo (Cf. Dominum et vivificantem, n. 25). Assim, o Senhor envia primeiro o Espírito somenta aos apóstolos para prepará-los e depois o envia em plenitude para que eles anunciem o Evangelho cheios do Espírito Santo para manifestar o Seu poder. Isso também nos recordar que precisamos cultivar a vida interior para termos um apostolado eficaz.

IV - Alegoria da caridade: o Papa São Gregório Magno mostra que esse duplo envio do Espírito Santo é uma alegoria da caridade: o Espírito é enviado primeiro do mundo, para simbolizar o amor ao próximo e depois é enviado dos Céus para simolizar o amor a Deus. Nesse sentido, como mostra Gregório, o Senhor nos recorda que é amando ao próximo que aprendemos a amar a Deus (Cf, Gregório, In Evang. hom, 26. apud: Catena Aurea).

Referências:
Bem-aventurado Papa João Paulo II. Encílica Dominus et Vivificantem. Roma, 1986. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_18051986_dominum-et-vivificantem_po.html
Santo Tomás de Aquino, OP. Catena Aurea. Comentários ao Evangelho de São João 20, 19-25. Disponível em: http://hjg.com.ar/catena/c816.html

A efusão do Espírito Santo


«Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós»

"Os apóstolos estavam sentados no Cenáculo, na sala de cima, à espera da vinda do Espírito. Ali estavam, quais pavios dispostos à espera de serem alumiados pelo Espírito Santo para iluminarem a criação inteira com o Seu ensinamento. [...] Ali estavam, quais agricultores que, trazendo a semente na aba de seus casacos, esperam o momento de receber ordem para semear. Ali estavam, quais marinheiros cuja barca, presa ao porto do comando do Filho, espera a chegada do doce vento do Espírito. Ali estavam, quais pastores que acabando de receber, das mãos do Grande Pastor de todo o redil, seus bordões, aguardam que lhes sejam distribuídos os rebanhos.


«Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem.» Ó Cenáculo, amassadouro onde foi lançado o fermento que fez elevar-se todo o universo! Cenáculo, mãe de todas as Igrejas; Cenáculo que viu o milagre da sarça ardente (Ex 3). Cenáculo que espantou Jerusalém com um prodígio muito maior do que o da fornalha que maravilhou os habitantes de Babilónia (Dn 3). O fogo da fornalha consumia em chamas os que estavam em redor, mas protegia os que estavam no seu centro; o fogo do Cenáculo reúne aqueles que, vindo de fora, desejam vê-lo, enquanto conforta os que o recebem. Ó fogo, fogo cuja vinda é verbo, cujo silêncio é luz, fogo que elevas os corações em acções de graças! [...]


Diziam alguns que se opunham ao Santo Espírito: «Esta gente bebeu vinho doce, estão embriagados». Na verdade, o que dizeis é verdadeiro, mas não como credes. Não foi vinho das vinhas o que eles beberam. É um vinho novo que corre do céu. É um vinho recentemente espremido no Gólgota. Os apóstolos deram-no a beber e assim embriagaram a criação inteira. É um vinho que foi espremido com a cruz."


Santo Éfrem, o Sírio, Diácono e Doutor da Igreja.
Sobre a Efusão do Santo Espírito, in S. Ephraem Syri, 25, 5, 15, 20, Oxford 1865, pp. 95ss. Extraído de: http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=commentary&localdate=20110612

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Memória do diácono Santo Éfrem, o Sírio




Santo Éfrem nasceu por volta do ano 306. Seu pai era sacerdote pagão e sua mãe era cristã. Recebeu educação cristã em casa, de sua mãe. Foi batizado aos 18 anos, tendo sido ordenado diácono por volta do ano 338. Viveu na Ásia Menor e dedicou-se a escritos doutrinários e à composição de hinos religiosos, razão pela qual ganhou o epíteto de "Cítara do Espírito Santo". Morreu em 9 de junho de 373. Segue abaixo, um trecho de um de seus edificantes escritos:



"Nosso Senhor escolheu Mateus, o cobrador de impostos, para encorajar os colegas deste a virem com ele também. Ele viu pecadores, chamou-os e fez que se sentassem junto de si. Um espectáculo admirável: os anjos ficam de pé, trémulos, enquanto os publicanos, sentados, se divertem. Os anjos enchem-se de temor perante a grandeza do Senhor, enquanto os pecadores comem e bebem com Ele. Os escribas sufocam de ódio e de despeito, e os publicanos exultam perante a sua misericórdia. O céu viu este espectáculo, ficando em grande admiração; o inferno também o viu e ficou louco. Satanás viu e enfureceu-se; a morte viu e enfraqueceu; os escribas viram e ficaram muito perturbados com isso.

Havia alegria nos céus e júbilo entre os anjos porque os rebeldes tinham sido convencidos, os recalcitrantes tinham ganho sensatez e os pecadores tinham sido corrigidos, e porque os publicanos tinham sido justificados. Tal como Nosso Senhor não renunciou à ignomínia da cruz apesar das exortações dos seus amigos (Mt 16,22), Ele não renunciou à companhia dos publicanos apesar da zombaria dos seus inimigos. Desprezou a zombaria e desdenhou o elogio, fazendo assim o que é o melhor para os homens." (Santo Éfrem, o Sírio, Diácono e Doutor da Igreja. Diassetarum, 5, 17. Extraído de: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_efren_o_sirio_antologia.html )

"Infundi, ó Deus, em nossos corações o Espírito Santo que inspirava ao diácono Efrém cantar os vossos mistérios e consagrar-se inteiramente ao vosso serviço. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo." (Missal Romano)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Do tríplice gênero de reis



"Há três gêneros de reis (Ricardo, sobre o Apoc., I, cap. In verbo principes). Dos reis da terra, uns governam os súditos, quanto às coisas terrestres, como os príncipes seculares; outros, quanto às coisas espirituais, como os reitores das igrejas; e outros regem-se a si próprios, como cada um dos fiéis. Porém, Cristo é o príncipe de todos os reis, pois que d'Ele vem todo o poder secular, o cuidado pastoral, e a diligência pessoal de cada um dos fiéis. E todas estas coisas, assim como d'Ele recebem a origem, assim também, segundo Ele, devem ter execução, para que os príncipes, através do poder secular, administrem a justiça entre os súditos, para que os pastores, pelo cuidado pastoral, ministrem a doutrina aos fiéis que lhe forem confiados, e cada um dos fiéis, pela diligência individual, observe, para consigo mesmo, as normas de santificação. Esta é a geração escolhida, o sacerdócio real, como diz Pedro na Prim. Ep., II, isto é, a geração dos cristãos que retamente se regem pelas virtudes. E dos sacerdotes se diz que oferecem como hóstia viva a Cristo Senhor, no altar da Cruz, pela contrição da oração e mortificação da carne (Ep. aos Rom., XII).

Por conseguinte, os príncipes temporais devem defender os seus súditos contra os homens usurpadores; os pastores devem defender as ovelhas, que lhe foram entregues, contra os demônios que as atacam; e cada um dos fiéis deve defender-se a si mesmo dos vícios que o assaltam. O reino de Cristo, pois, e de seus fiéis não é carnal, mas espiritual, visto que a carne e o sangue não possuirão o reino de Deus (Pr. Ep. aos Cor., XV). Ao reino deste mundo pertencem aqueles que com o auxílio das forças humanas, e não com o auxílio divino, tentam combater ou defender-se dos inimigos(Causa XXIII, questão III, § 1)."
Fonte: PAIS, Álvaro. O Espelho dos Reis (Speculum Regum). Trad. de Miguel Pinto de Menezes. Vol. I. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1955. pp. 33-35.


* Álvaro Pais, ou Álvaro Pelayo (em latim: Alvarus Pelagius) nasceu na Galícia por volta de 1275, sendo filho bastardo de um nobre. Foi criado durante a infância na corte do rei Sancho IV de Castela. Depois estudou na Universidade de Bolonha onde tornou-se Doutor em Direito Canônico. Lá também ingressou em 1304 na ordem franciscana, sendo recebido pelas mãos do ministro-geral da Ordem, Frei Gonçalo, que havia sido seu mestre na Universidade. Residiu uns tempos no convento de Aracoeli em Roma, que abandonou em 1328 devido à invasão do Imperador germânico Ludovico IV que estava em conflito com o Papado. Em 1330, Frei Álvaro passou a residir na Cúria Papal em Avignon, exercendo o ofício de Penitenciário Apostólico e confessor do Papa João XXII. Em 1332 foi nomeado Bispo da diocese de Silves, no Algarve, em Portugal. Já em sua diocese, enfrentou problemas com o rei Afonso IV de Portugal, que havia imposto taxações ao clero para custear uma guerra contra Castela (o que violava os cânones 43 e 46 do IV Concílio de Latrão). Após ser agredido fisicamente a mando do rei durante a celebração de uma missa, Álvaro Pais se exila em Sevilla, onde faleceu por volta de 1350. Sua obra Speculum Regum é um tratado propedêutico visando isntruir o rei no exercício das virtudes e no governo pautada na fé cristã. Foi reidigido entre 1341 e 1344, tendo sido dedicado ao rei Afonso XI de Castela que, juntamente com Afonso IV de Portugal, havia vencido uma coalizão de muçulmanos de Granada e Norte de África na Batalha do Salado em 1340. Está é a obra que estou estudando em meu Mestrado em História, atualmente.

domingo, 5 de junho de 2011

Sermão de São Leão Magno sobre a Ascensão do Senhor



A Ascensão do Senhor aumenta nossa fé
Quinta-feira VI de Páscoa




"Cristo, em sua humanidade santíssima, já chegou à glória, essa glória que, até o momento, é aurora para o resto da humanidade. Ainda não podemos experimentará-la, mas cremos firmemente nela. De fato, a esperança nesse reino induziu tantos homens, depois de Cristo, a entregar sua vida, sem temer a morte; homens que conformam uma constelação quase infinita de jóias na história da Igreja: são os mártires. Mas não só os mártires; na realidade, todos estamos chamados a uma única santidade e todos devemos viver com os olhos de nosso coração voltados para o céu porque "passa a figura deste mundo" e logo seremos "recebidos na paz e na suma bem-aventurança, na pátria que brilhará com a glória do Senhor".


Assim como na solenidade de Páscoa a ressurreição do Senhor foi para nós causa de alegria, assim também agora sua ascensão ao céu nos é um novo motivo de alegria, ao lembrar e celebrar liturgicamente o dia em que a pequenez de nossa natureza foi elevada, em Cristo, acima de todos os exércitos celestiais, de todas as categorias de anjos, de toda a sublimidade das potestades, até compartilhar o trono de Deus Pai. Fomos estabelecidos e edificados por este modo de atuar divino, para que a graça de Deus se manifestasse mais admiravelmente, e assim, apesar de ter sido afastada da vista dos homens a presença visível do Senhor, pela qual se alimentava o respeito dele para com Ele, a fé se mantivesse firme, a esperança inabalável e o amor aceso.

Nisto consiste, com efeito, o vigor dos espíritos verdadeiramente grandes, isto é o que realiza a luz da fé nas almas verdadeiramente fiéis: crer sem vacilar no que nossos olhos não vêem, ter fixo o desejo no que não pode alcançar nosso olhar. Como poderia nascer esta piedade em nossos corações, ou como poderíamos ser justificados pela fé, se nossa salvação consistisse apenas no que nos é dado ver?

Assim, todas as coisas referentes a nosso Redentor, que antes eram visíveis, passaram a ser ritos sacramentais; e, para que nossa fé fosse mais firme e valiosa, a visão foi substituída pela instrução, de modo que, em diante, nossos corações, iluminados pela luz celestial, devem apoiar-se nesta instrução.

Esta fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, já não se abate pelas correntes, a prisão, o desterro, a fome, o fogo, as feras nem os refinados tormentos dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por esta fé, até derramar seu sangue. Esta fé afugenta os demônios, cura doenças, ressuscita os mortos.

Por isso os próprios apóstolos, que, apesar dos milagres que haviam contemplado e dos ensinamentos que haviam recebido, se acovardaram diante das atrocidades de paixão do Senhor e se mostraram arredios em admitir sua ressurreição, receberam um progresso espiritual tão grande da ascensão do Senhor, que tudo o que antes era motivo de temor tornou-se motivo de gozo. É que seu espírito estava agora totalmente elevado pela contemplação da divindade, do que está sentado à direita do Pai; e ao não ver o corpo do Senhor podiam compreender com maior claridade que aquele não havia deixado o Pai, ao descer à terra, nem havia abandonado seus discípulos, ao subir aos céus.

Então, amadíssimos irmãos, o Filho do homem mostrou-se, de um modo mais excelente e sagrado, como Filho de Deus, ao ser recebido na glória da magestade do Pai, e, ao afastar-se de nós por sua humanidade, começou a estar presente entre nós de um novo modo e inefável por sua divindade.

Então nossa fé começou a adquirir um maior e progressivo conhecimento da igualdade do Filho com o Pai, e a não necessitar da presença palpável da substância corpórea de Cristo, segundo a qual é inferior ao Pai; pois, subsistindo a natureza do corpo glorificado de Cristo, a fé dos fiéis é chamada onde poderá tocar ao Filho único, igual ao Pai, não mais com a mão, mas mediante o conhecimento espiritual."

Dos Sermões de São Leão Magno, Papa. Extraído de: http://www.acidigital.com/fiestas/ascencao/textos.htm

Sermão de Santo Agostinho para a Ascensão do Senhor




Ninguém, subiu ao céu senão aquele que veio do céu

"Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também como Ele nosso coração. Ouçamos o que nos diz o Apóstolo: Se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à destra de Deus. Ponde vosso coração nas coisas do céu, não nas da terra. Pois, do mesmo modo que ele sufiu sem por isso afastar-se de nós, assim também nós estamos já com ele, embora ainda não se tenha realizado em nosso corpo o que nos foi prometido.

Ele foi elevado ao mais alto dos céus; entretanto, continua sofrendo na terra através das fadigas que experimentam seus membros. Assim o testificou com aquela voz vinda do céu: Saulo, Saulo, por que me persegues? E também: Tive fome e me destes de comer. Por que não trabalhamos nós também aquí na terra, de maneira que, pela fé, a esperança e a caridade que nos unem a ele, descansemos já com ele nos céus? Ele está ali, mas continua estando conosco; nós, estando aqui, estamos também com ele. Ele está conosco por sua divindade, por seu poder, por seu amor; nós, embora não possamos realizar isto como ele pela divindade, podemos pelo amor a ele.

Ele, quando desceu até nós, não deixou o céu; tampouco nos deixou, ao voltar ao céu. Ele mesmo assegura que não deixou o céu enquanto estava conosco, posto que afirma: Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. Isto diz em virtude da unidade que existe entre ele, nossa cabeça, e nós, seu corpo. E ninguém, exceto ele, poderia dizer isso, já que nós estamos identificados com ele, em virtude de que ele, por nossa causa, fez-se Filho do homem, e nós, por ele, fomos feitos filhos de Deus.

Neste sentido diz o Apóstolo: Assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, a pesar de serem muitos, são um só corpo, assim também é Cristo, Não diz: "Assim é Cristo", mas: Assim também é Cristo. Portanto, Cristo é apenas um corpo formado por muitos membros. Desceu, pois, do céu, por sua misericórdia, mas já não subiu sozinho, que nós subimos também nele pela graça. Assim, pois, Cristo desceu sozinho, mas já não ascendeu ele sozinho; não é que queramos confundir a divindade da cabeça com a do corpo, mas sim afirmamos que a unidade de todo o corpo pede que este não seja separado de sua cabeça."

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo.
(Sermão Mai 98, Sobre a Ascensão do Senhor, 1-2; PLS 2, 494-495). Extraído de: http://www.acidigital.com/fiestas/ascencao/textos.htm

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Alegres na tribulação

"Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria!
A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao mundo.
Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria.
Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará."
(Jo 16, 20-23a)






O Evangelho de hoje nos exorta a permanecermos alegres e perseverantes em Deus nas adversidades e tribulações. Segue abaixo uma homilia de Crisóstomo sobre a I Carta de São Paulo aos Tessalonicenses que se encaixa bem na mensagem do Evangelho de hoje:




"«Fizestes-vos imitadores do Senhor», diz Paulo. Como? «Recebendo a Palavra no meio de muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo» (1Tes 1,6). Não foi somente nas tribulações, foi no meio de tribulações, no meio de sofrimentos sem fim. Podeis constatá-lo nos Actos dos Apóstolos, onde vemos como se acicatou a perseguição contra eles, como os seus inimigos os denunciaram aos magistrados e sublevaram a cidade. Eles sofreram tribulações, e não se pode dizer que tenham permanecido fiéis com pena, gemendo – não, foram-no com grande alegria, pois os apóstolos tinham-lhes dado o exemplo: «cheios de alegria por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do nome de Jesus» (Act 5,41).

É isto que é verdadeiramente admirável! Já é muito sofrer tribulações com paciência; mas alegrar-se com elas é mostrar que se é superior à natureza humana e que já se tem, por assim dizer, um corpo impassível. Mas como é que eles foram imitadores de Cristo? Pelo facto de também Ele ter sofrido sem soltar uma queixa, com alegria, porque era de Sua vontade que Se encontrava em semelhantes tribulações. Foi por nós que Ele Se humilhou, adiantando-Se aos escarros, às bofetadas, à própria cruz; e alegrando-Se de tal maneira, que chamava a tudo isso a Sua glória: Pai, dizia, glorifica-Me (Jo 17,5)."

São João Crisóstomo. Homilia I sobre a I Carta aos Tessalonicenses. Extraído de: http://www.evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=commentary&localdate=20110603

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Martírio de São Justino de Roma, século II



Hoje a Igreja celebra a memória do martírio do filósofo São Justino de Roma e seus companheiros. O Ofício das Leituras da Liturgia das Horas apresenta-nos hoje o relato de seu martírio:




"Aqueles homens santos foram presos e conduzidos ao prefeito de Roma, chamado Rústico. Estando eles diante do tribunal, o prefeito Rústico disse a Justino: “Em primeiro lugar, manifesta tua fé nos deuses e obedece aos imperadores”. Justino respondeu: “Não podemos ser acusados nem presos, só pelo fato de obedecermos aos mandamentos de Jesus Cristo, nosso Salvador”.

Rústico indagou: “Que doutrinas professas?” E Justino: “Na verdade, procurei conhecer todas as doutrinas, mas acabei por abraçar a verdadeira doutrina dos cristãos, embora ela não seja aceita por aqueles que vivem no erro”.

O prefeito Rústico prosseguiu: “E tu aceitas esta doutrina, grande miserável?” Respondeu Justino: “Sim, pois a sigo como verdade absoluta”. O prefeito indagou: “Que verdade é esta?” Justino explicou: “Adoramos o Deus dos cristãos, a quem consideramos como único criador, desde o princípio, artífice de toda a criação,das coisas visíveis e invisíveis: adoramos também o Senhor Jesus Cristo,Filho de Deus, que os profetas anunciaram vir para o gênero humano como mensageiro da salvação e mestre da boa doutrina.

E eu, um simples homem, considero insignificante tudo o que estou dizendo para exprimir a sua infinita divindade, mas reconheço o valor das profecias que previamente anunciaram aquele que afirmei ser o Filho de Deus. Sei que eram inspirados por Deus os profetas que vaticinaram a sua vinda entre os homens”.

Rústico perguntou: “Então, tu és cristão?” Justino afirmou: “Sim, sou cristão”. O prefeito disse a Justino: “Ouve,tu que és tido por sábio e julgas conhecer a verdadeira doutrina: se fores flagelado e decapitado, estás convencido de que subirás ao céu?” Disse Justino: “Espero entrar naquela morada, se tiver de sofrer o que dizes. Pois sei que para todos os que viverem santamente está reservada a recompensa de Deus até o fim do mundo inteiro”.

O prefeito Rústico continuou: “Então, tu supões que hás de subir ao céu para receber algum prêmio em retribuição”? Justino respondeu-lhe: “Não suponho, tenho a maior certeza”.

O prefeito Rústico declarou: “Basta, deixemos isso e vamos à questão que importa, da qual não podemos fugir e é urgente. Aproximai-vos e todos juntos sacrificai aos deuses”. Justino respondeu: “Ninguém de bom senso abandona a piedade para cair na impiedade”.

O prefeito Rústico insistiu: “Se não fizerdes o que vos foi ordenado, sereis torturados sem compaixão”. Justino disse: “Desejamos e esperamos chegar à salvação através dos tormentos que sofrermos por amor de nosso Senhor Jesus Cristo. O sofrimento nos garante a salvação e nos dá confiança perante o tribunal de nosso Senhor e Salvador, que é universal e mais terrível que o teu”.

O mesmo também disseram os outros mártires: “Faze o que quiseres; nós somos cristãos e não sacrificaremos aos ídolos”.

O prefeito Rústico pronunciou então a sentença: “Os que não quiseram sacrificar aos deuses e obedecer ordem do imperador, depois de flagelados, sejam conduzidos para sofrer a pena capital, segundo a norma das leis”. Glorificando a Deus, os santos mártires saíram para o local determinado, onde foram decapitados e consumaram o martírio proclamando a fé no Salvador."


Das atas do martírio dos santos Justino e seus companheiros, cap. 1-5, cf. P.G. 6, 1566-1571, extraído do Ofício das Leituras da Liturgia das Horas.