terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012

Extraído de: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/messages/lent/documents/hf_ben-xvi_mes_20111103_lent-2012_po.html 

«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos
ao amor e às boas obras» (
Heb 10, 24)

"Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da » (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica."
Vaticano, 3 de Novembro de 2011

BENEDICTUS PP. XVI

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre Hipocrisia

É curioso como as pessoas têm mania de impor aos que praticam uma religião à sério a alcunha de "hipócritas". Segundo a ótica dessas pessoas, um devoto praticante seria automaticamente um hipócrita que usa das práticas religiosas para mascarar seus erros e, de quebra, sentir-se superior aos demais. Faça a experiência, leitor: tente corrigir algum comportamento ou doutrina heterodoxa de outra pessoa. Ela certamente dirá coisas do tipo "não julgue! Você é hipócrita, porque vai à Igreja mas está sempre cometendo erros".
Vamos investigar a origem: nos Evangelhos, Jesus acusou várias vezes os fariseus de hipócritas, por transformarem a religião num simples amontoado de preceitos e esquecerem-se o que regia e unia esses preceitos: o Amor a Deus e ao Próximo. Ele também os chamava de hipócritas por julgarem-se justos pela observância dos preceitos, mesmo que cometessem erros, às vezes mais graves e conscientes do que os erros dos que julgavam. Pois, bem: na ótica de Cristo, portanto, hipócrita é a pessoa que transforma a prática da justiça em meros aspectos formais, externos, e que usa a observância dos preceitos externos como forma de se julgar superior aos demais ou até mesmo achar-se sem pecados.
Não posso dizer das pessoas de outras crenças, pois não sei como funciona esse aspecto em suas religiões, mas certamente os católicos praticantes não se crêem superiores aos demais. Têm muita consciência de seus pecados, caso contrário não se confessariam com frequência. Ao passo de que seus acusadores muitas vezes não se confessam, fazem troça do Sacramento da Confissão e escoram-se na frase de Cristo "quem nunca pecou que atire a primeira pedra" para sentirem-se confortáveis em sua situação de pecadores, esquecendo-se do resposta de Cristo à mulher adúltera "vá e não peques mais".
Interessante observar que a confraria dos "Não julgue" são os que frequentemente emitem os mais ásperos e temerários julgamentos. Ao começar por atribuir a alcunha de hipócrita sem sequer poder perscutar a consciência e o íntimo do acusado (lembremos que Cristo pode penetrar no íntimo dos corações). Isso naturalmente não significa que hipocrisia esteja sempre relacionada ao íntimo... quando a pessoa exprime seus pensamentos e seus atos mostram desacordo, podemos constatar a existência de uma hipocrisia.
Vou dar um exemplo: os, hoje numeráveis, críticos da Igreja Católica. Revestidos de originalidade, estes críticos não fazem senão repetir clichês que ouviram da Mídia ou de professores de formação marxista que lhes deram aula no Ensino Fundamental e Médio. Resultará cômico observarmos que muitos destes críticos frequentam a Igreja ou mesmo estão ligados a ela. Muitos inclusive dependem dela! Alguns tem boa educação graças à instituição católica de ensino na qual estudaram, outros trabalham em alguma instituição ligada à Igreja. Falam mal da Igreja, mas sem ela não teriam sua atual formação ou emprego. Há também aqueles que criticam a Igreja, duvidam-lhe da sua Doutrina, mas insistem em se dizer católicos e a frequentarem os sacramentos (menos o da Confissão, claro! afinal, pecado é uma palavra muito feia!). Há hipocrisia maior do que a pessoa que mente na Missa (sim, porque pela lógica toda pessoa que reza "Creio na Santa Igreja Católica" e duvida de seus ensinamentos está mentindo) e vai tomar a Santa Comunhão sem haver se confessado?
Concluindo: vamos usar as palavras com seus verdadeiros significados. Apontemos os erros e busquemos corrigi-los. Sigamos a ordem de Jesus "não julgai segundo a aparência, mas segundo a reta justiça" evitando todo juízo temerário. Não tomemos a cátedra do Senhor tentando perscrutar as consciências alheias. E aos que criticam  a Igreja usando-se de distorções das palavras de Cristo, peço ao menos coerência.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Confundindo público e privado

Durante muito tempo, encarava-se de forma natural que a religião e o culto estivessem presentes na esfera pública e a sexualidade na esfera privada. Assim, sempre foi considerado normal que o ato conjugal fosse feito dentro de casa e considerado escandaloso manofestações sexuais em público, o que ofendia ao pudor. Igualmente, foi sempre considerado normal que, embora tivesse uma dimensão doméstica também, o culto religioso fosse manifestado publicamente. Isso porque a religião sempre fora vista não como uma questão de opinião individual, mas como uma comunidade ou conjunto de pessoas que compartilhavam de crenças em comum e as manifestavam em conjunto, para expressar a dimensão pública e comunitária de suas crenças. Desta forma, é natural que, mesmo nos povos e civilizações que não possuíssem o hábito de edificar templos, houvesse alguma forma de culto público. A sexualidade, como vimos, sempre foi considerada mais intimista e privada, dado o fato do ato conjugar a intimidade dos esposos. Mas há também outro aspecto: o caráter sagrado da geração da vida associada ao ato sexual. As coisas sagradas geralmente não são ostentadas de forma valgar, mas são, de alguma forma, velada (os antigos templos geralmente separavam o átrio dos fiéis do santuário propriamente dito e a própria palavra latina "profano", profanum, surgiu para diferenciar as coisas que encontravam-se para fora do santuário). Desta forma, a sexualidade era mantida no âmbito da intimidade, resguardando assim a diferenciação entre as esferas pública e privada.
A mentalidade moderna, devido ao laicismo e ao relativismo, inverte a tendência natural das sociedades humanas. O laicismo, querendo relegar o culto ao quartinho da dispensa, esquece-se de que as pessoas pensam e agem segundo todo o seu conjunto de convicções (inclusive às de natureza religiosa, e cabe aqui lembrar que a religião sempre abrangiu questões que iam muito além da simples queima de incenso para divindades). O relativismo  moral esquece-se que há certas coisas íntimas do ser humano que não devem ser expostas em público sem risco de importunar os outros membros da sociedade, com coisas que não lhes dizem respeito. É verdade que a sexualidade influencia nossas personalidades, mas isso não significa que tomemos todas as nossas decisões e atuemos sempre tendo em vista preferências ou o institnto sexual. Diferente das convicções filosóficas e religiosas que, exceto se formos hipócritas, costumam reger com unidade de vida todas as nossas ações.
Escrevi esta curta nota de natureza ensaística apenas convidando-nos a pensar e a rejeitramos a confusão entre público e privado a qual nos induzem o laicismo e o relativismo.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Refrescando a memória: um recado do Papa Bento XVI

Em plenas eleições presidenciais de 2010, o Papa Bento XVI tinha recordado a um grupo de Bispos brasileiros sobre o perigo das ações políticas contrárias à vida humana, que traiçionavam o ideal democrático. Dado a mais nova nomeação para a Secretaria de Políticas para as Mulheres pela então candidata e atual Presidente Dilma Roussef, continua a atualidade desse vídeo, motivo pela qual o posto aqui para que os leitores do blog o revejam:

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O dia que a Dignidade Humana foi jogada no lixo: sobre uma Comparação Vergonhosa


"O aborto, como sanitarista, tenho que dizer, ele é uma questão de saúde pública, não é uma questão ideológica. Como o crack, as drogas, a dengue, o HIV, todas as doenças infecto-contagiosas." (Ministra Eleonora Meniucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, dia 7 de fevereiro de 2012. Reportagem aqui: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1045146-nova-ministra-de-dilma-diz-que-aborto-nao-e-questao-ideologica.shtml )


A nova ministra de Dilma "elevou" o nascituro da mísera condição de ser humano à excelsa condição de doença ou droga. Se você não se escandalizou com uma frase dessas, me desculpe, desconfio de sua lógica. Não se resolve problemas de quem quer que seja assassinando inocentes que não tem nada a ver com a história. A frase da Ministra me fez lembrar algumas teses modernas (que na verdade fedem a mofo de estátuas cananéias de Moloch) de que o nascituro seria um parasita no corpo da mulher. Nada mais estulto, haja vista o embrião já ser um ser distinto do pai e da mãe, com uma configuração genética própria definida, resuntante da união de dois códigos genéticos diferentes dos genitores. Legalizar o aborto é rasgar a Constituição. E isso nem é o mais importante. O pior de tudo é que legalizar o aborto é o mesmo que dizer que o Direito Humano fundamental da Lei Natural não vale nada, e assim, joga-se o valor da vida humana no lixo. E aí abrem-se as portas para todo tipo de qualificação de invalidez para qualquer ser humano... como se o infanticídio impetrado pelo aborto já não bastasse para ferver nosso sangue de indignação. Comparar o valor da vida humana com uma moléstia, um flagelo ou uma doença é um insulto à humanidade! O nascituro não é uma doença, não é uma droga! Ele é um ser humano!
Eis aí os fatos do Governo que se elegeu dizendo "valorizar a vida". Que Deus tenha piedade de nós!



A propósito... um valoroso sacerdote comentou a comparação vergonhosa da ministra... vide:



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A mentira tem perna curta...


Atribui-se ao artífice da máquina de propaganda política do Nazismo, Josef Goebbels, a sentença "a arte de contar uma mentira tantas vezes que acaba se tornando uma verdade". É triste constatarmos que esse "método Goebbels" tem feito ecola em nossa Nação brasileira. Refresco-lhes a memória:
Nas eleições presidenciais do ano de 2010, houve grande rebuliço na internet e nas demais mídias por causa das posições pró-aborto da então candidata Dilma Roussef. O que parecia ser uma vitória direta em primeiro turno acabou gerando um segundo round, pois a divulgação das posições pró-aborto da então candidata do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República fez com que a mesma perdesse muitos votos. Foi significativa a divulgação de um documento entitulado "Apelo a Todos os Brasileiros e Brasleiras", redigido pela Comissão Episcopal representativa do Conselho Episcopal regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), assinada por três bispos, no qual se expunha vários fatos que relacionavam Dilma Roussef e o PT à militância pró-aborto no Brasil.[1] O documento inclusive referenciava um link de um documento chamado "A Contextualização da Defesa da Vida no Brasil" contendo farta documentação detalhada acerca das investidas abortistas na política brasileira, muita das quais encabeçada pelo PT.[2] Pois bem, vários bispos incentivaram a divulgação do panfleto do "Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras". O Bispo de Guarulhos inclusive mandara imprimir várias cópias, ao que presenciamos uma cena de constrangimento ilegal por parte de repórtores amadores e pessoas ligadas à militância de esquerda querendo exercer funções policiais sem a devida atribuição. Parecia muito uma versão moderna da SA (Sturmabteilung, uma organização paramilitar do Partido Nazista que tinha como uma de suas missões intimidar opositores do Partido).[3] Os panfletos foram confiscados e em alguns casos foram pela própria Polícia Federal, acusados de serem propaganda política ideal (não pediam para votar em nenhum partido, apenas orientavam acerca da incompatibilidade de uma candidata e um partido com os princípios católicos). Pois bem, no segundo turno das eleições, a atual Presidente da República, Sra, Dilma Roussef posou de católica devota, ao lado do então candidato a Deputado Federal Gabriel Chalita. Este, conhecido nos meios de comunicação católicos, fez o papel de lobo em pele de cordeiro ao aparecer na mídia tranquilizando os católicos e acusando as denúncias da associação de Dilma e do PT com a causa pró-aborto de "boataria".[4] Era o método Goebbels em ação. Mas muitos insignes católicos se pronunciaram contra essas propagandas mentiorsas dos inimigos da Igreja e da moral, como o Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, que publicou no youtube um vídeo denunciando as investidas do PT contra a Igreja e a causa pró-vida.[5]
Dilma Roussef foi eleita Presidente da República, apoiando-se em discursos genéricos sobre a vida, mas sem esclarecer uma verdadeira mudança de posição. Recentemente, a Presidente da República nomeou a Sra. Eleonora Meniccucci para a Secretaria de Políticas para as Mulheres. A Sra. Eleonora confessou ter se submetido à prática de aborto já 2 vezes e declarou atuar em favor da causa pró-aborto à frente da dita Secretaria.[6] Pois bem, aonde está a "boataria" agora, Sr. Gabriel Chalita? Por mais eficiente que seja o método Goebbels, já dizia a sabedoria popular que "a mentira tem perna curta"! Se ainda restava alguma dúvida (para mim sempre foi claro que, independente do que diga o candidato, o PT tem a liberação do aborto como proposta partidária e que os verdadeiros pró-vida são expulsos do Partido[7]), agora está claro que os católicos foram enganados nas eleições de 2010. Que Deus tenha piedade de nós, que fazemos tão pouco na defesa de Seus santíssimos preceitos e pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida livre o Brasil da maldição do aborto, o holocausto silencioso dos inocentes!

Notas:
[1] Apelo a Todos os Brasileiros e Brasileiras: http://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/carta_presidencia_texto_oficial.pdf
[2] Contextualização da Defesa da Vida no Brasil: http://www.cnbbsul1.org.br/arquivos/defesavidabrasil.pdf
[3] Noticiado em: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/cuidado-a-sa-de-petistas-e-jornalistas-esta-nas-ruas-moca-disfarcada-de-reporter-compara-igreja-catolica-ao-pcc-pt-gosta-tanto-que-leva-o-video-ao-ar/
[4] Vídeo em: http://youtube.com/watch?v=JOaLncbhjvM
[5] Vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=PkzoKCkgMCo
[6] Notícia em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1045146-nova-ministra-de-dilma-diz-que-aborto-nao-e-questao-ideologica.shtml
[7] O Pe. Luiz Carlos Lodi expõe de forma documentada esses fatos aqui: http://www.providaanapolis.org.br/possovot.htm