segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Amor e Sacrifício

O Evangelho de hoje narra-nos a história do jovem rico para quem Jesus fez um convite de segui-Lo mais de perto, com maior intensidade. Devemos não analisar propriamente o chamado específico que o Senhor fez àquele jovem, dado que a cada um Cristo pede uma forma de entrega conforme seu estado de vida e sua vocação. Devemos antes analisar que o amor e o seguimento de Jesus nos exigem renúncia e sacrifício. De fato, nosso amor por Deus e para o próximo deve brotar da Cruz de Cristo, pois como diz Santo Afonso de Ligório "todo amor que não nasce da Cruz de Cristo é frívolo e perigoso". Isso não significa que não devamos cultivar os amores e afetos naturais (amor filial, materno, conjugal, fraterno, etc), mas que devemos revesti-los da Caridade, do Ágape, o amor descendente que vêm de Deus em direção a nós. Assim, a Caridade leva-nos a renunciar e fazer sacrifícios pelo bem dos que amamos e para a maior Glória de Deus.
Esse sacrifício do amor é vivido de diversas formas, desde coisas pequenas como a mãe que deixa de dormir para dedicar-se ao filho doente ao mártir que renuncia a sua vida para não renegar o amor ao Redentor do gênero humano. De fato, viver os mandamentos e praticar as virtudes (resumidamente Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a nós mesmos) é uma certa forma de martírio, quotidiano e gradual. Isso se torna mais verdade se considerarmos com que intensidade Jesus mandou que exercêcemos a Caridade: com a mesma medida que ele nos amou, ou seja, até a entrega da própria vida.
Se por um lado o amor exige o sacrifício, por outro é ele também que dá significado e mérito ao sacrifício. É o amor com que fazemos nossas orações, obras e sacrifícios que os torna meritório diante de Deus. Claro que nosso amor é falho, imperfeito. Por isso que é importante unirmo-nos a Cristo na Missa para que a oferta de nosso amor seja aperfeiçoada pelo amor do próprio Jesus.
Por fim, deixo aqui um pequeno trecho das palavras que Deus dirigiu a Santa Catarina de Siena no Diálogo:
"Filha, fiz-te ver que a culpa não é reparada neste mundo pelos sofrimentos, mas sim pelos sofrimentos aceitos com amor, com desejo, com interna contrição. Não basta a força da mortificação; ocorre o anseio da alma. O mesmo acontece, aliás, com a caridade e qualquer outra virtude, que somente possuem valor e produzem a vida em meu Filho Jesus Cristo crucificado, isto é, na medida em que a pessoa dele recebe o amor e virtuosamente segue as suas pegadas. Somente assim adquirem valor. As mortificações satisfazem pela culpa na feliz comunhão do amor, adquirido na contemplação da minha bondade." (Diálogo, 2.2. Tradução de Fr. João Alves Basílio, OP. São Paulo: Paulus, 2007, p. 30)
Reconheçamos nossa fraqueza, nosso egoísmo, os vícios que nos prendem ao pó da terra e peçamos com humildade e confiança ao Senhor que aumente nossa Caridade, pois Ele é o próprio Amor e só nos entregando a Ele poderemos ser atingidos em nossa íntimo pelo salutar dardo de sua abrasada Caridade.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Confiar na Providência de Deus, não nos bens passageiros

O Evangelho desse Domingo nos exorta a depositarmos nossa confiança na Providência de Deus e não nos bens passageiros. Nesse sentido, vale meditarmos um trecho do tratado Moralia in Job do Papa São Gregório I Magno que embora trate do livro de Jó relaciona-se diretamente com o tema do Evangelho da Liturgia de hoje. O texto foi extraído de uma antologia disponível no site http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_gregorio_magno_antologia.html





"Querer pôr a esperança e a confiança em bens passageiros é querer fazer fundações em água corrente. Tudo passa ; Deus permanece. Agarrarmo-nos ao que é transitório é desligarmo-nos do que é permanente. Quem, portanto, levado no turbilhão agitado de um rápido, consegue manter-se firme em seu lugar, nessa torrente fragorosa? Se quisermos recusar-nos a ser levados pela corrente, temos de nos afastar de tudo o que corre ; senão o objecto do nosso amor constranger-nos-á a chegar ao que precisamente queremos evitar. Aquele que se agarra aos bens transitórios será certamente arrastado até onde vão ter, à deriva, essas coisas a que se apega.

A primeira coisa a fazer é pois abstermo-nos de amar os bens materiais ; a segunda, não pormos total confiança naqueles bens que nos são confiados para ser usados e não para ser desfrutados. A alma que se prende a bens perecíveis, apenas, depressa perde a sua própria estabilidade. O turbilhão da vida actual arrasta quem nele se deixa ir, e é uma tonta ilusão, para aquele que é levado nesta corrente, nela querer manter-se de pé." (São Gregório Magno. Moralia in Job, 34)



Nesse Domingo peçamos, portanto, que o Senhor aumente nossa esperança e nosso amor, para que confiemos nEle com piedade filial. Peçamos também como São Josemaría Escrivá Domine ut videam! para que possamos ver mais claramente a ação da Providência em nossas vidas e assim não desanimarmos com as correntes instáveis do mar de nossas vidas. Recorramos também à nossa Mãe, a Santíssima Virgem Maria, que como modelo de confiança em Deus soube suportar pacientemente todas as dificuldades de sua vida e guardar e meditar todas as coisas em seu coração como nos narra o Santo Evangelho.


Domine ut videam! Domine ut sit!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O homem deve ser como a rosa...

"Convém que o homem se abra como uma rosa que não pode permanecer fechada, e o perfume que ela gerou em seu interior deve se espargir." (Dante Alighieri. Convívio, IV, XXVII)


Saibamos, pois, como nos exortou o Salvador, utilizar nossos talentos em benefício dos demais. Não guardemos somente para nós nosso conhecimento, mas a todos levemos a Verdade de Cristo. Sejamos como a rosa, de forma que possamos espalhar a Verdade e as boas obras entre os homens até o esgotamento de nós mesmos.

Um acaso providencial...

Estava eu ontem rezando algumas orações devocionais após o término da Missa da manhã em minha paróquia, quando fui abordado por uma senhora que, aparentemente sem motivo, deu-me um pequeno livro. O livro chama-se O Eco de uma Frase, escrito pelo Pe. Afonso de Santa Cruz, que relata a biografia de Madre Madalena Daemen (1787-1858), fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã. Ainda não li o livro todo, mas pelo que já li, a biografia de Madre Daemen gira em torno de uma frase que lhe fora dita pela mãe ao narrar o batismo da filha (que havia sido em um perigoso dia de muita neve e tempestade), "Deus cuidou de ti!". E a filha levou sempre essa frase como lembrança em meio às dificuldades e vcissitudes de sua vida, pois desde a infância passara por períodos turbulentos em uma Holanda sacudida pelos ventos da Revolução Francesa e das Guerras Napoleônicas. A mensagem central do livro parece ser a de que devemos sempre confiar na Divina Providência. Quando confiarmos na Divina Providência, deixaremo-nos ser guiados por ela e, então as contrariedades do percurso já não nos incutirão mais temor.
Definitivamente, este livro ter vindo às minhas mãos não foi um mero acaso, foi algo providencial.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Reflexões sobre a Sagrada Comunhão

De que devemos primeiramente considerar a imensidade desse mistério: É admirável a obra de Deus na Criação e de como Ele maravilhosamente fez a Criação toda retamente ordenada, como uma bela rosácea de uma Catedral. Mas no mistério da Sagrada Eucaristia, Deus fez algo mais excelso do que todas as obras da Criação, Deus fez com que a substância de pão e de vinho se transformasse em Si mesmo! Os hebreus comiam da carne de seus animais oferecidos a Deus, mas nós... nós comemos da carne do próprio Deus que se oferece a Si próprio por nós! Na Sagrada Comunhão, tornam-se mais intensas aquelas palavras de São Paulo sobre a recapitulação de todas as coisas em Cristo posto que nós nos unimos a Cristo e com Ele nos oferecemos ao Pai, de forma que em Cristo, Deus e Homem verdadeiro, tudo convirja para Deus. Considerai que Jesus Cristo, que é Deus infinitamente feliz e perfeito no Céu quis fazer se nós Sua Morada. Jesus quer assentar-se como rei em nossos corações tal como senta-se no Trono Celeste sobre os Querubins. Considerai que sob o véu do pão e do vinho, recebemos o mesmo Cristo nascido da Virgem Maria em Belém, padecido na Cruz, ressuscitado e que assentou-se glorioso à destra do Pai. Aquele que os profetas ardentemente e ansiosamente desejaram nós o agora o recebemos, fazendo de nosso corpo e nossa alma um Templo Sagrado, um Palácio, um Paraíso para o Rei de imensa e tremenda majestade! Não há no mundo graça mais excelsa! Com razão disse o Angélico Doutor que se compreendêssemos verdadeiramente esse insondável mistério, morreríamos de amor.

De como devemos proceder na Sagrada Comunhão: Considerando, pois a imensidade desse santo dom, que é o próprio Senhor dos Senhores que vive e reina por toda a eternidade, quem ousaria aproximar-se da Sagrada Mesa sem antes examinar sua consciência? Se comermos da carne do Senhor e bebermos de Seu sangue sem distinguir, ou seja, sem reconhecermos a grandeza do Senhor que recebemos, estaríamos comendo e bebendo nossa própria condenação, dado que estaríamos cometendo um sacrilégio. Se tivermos, portanto algum pecado grave na consciência devemos primeiramente buscar o perdão de Deus no sacramento da confissão para que possamos receber o Senhor glorioso em Corpo, Sangue, Alma e Divindade como Rei e Senhor de nossa alma, nossa mente e nosso coração. Procedamos também com reverência, lembrando o conselho de Santo Agostinho “que ninguém coma dessa carne sem antes ter adorado”. Não façais como muitos que recebem este Admirável Sacramento com a mesma indiferença que receberiam em sua mão uma mera bolacha ou uma moeda! Recebei-O com reverência profunda interna e externa, sabendo que vais conter em ti Aquele que o Universo inteiro não pode conter! De preferência recebei o Cristo Eucarístico de joelhos e deixai que o sacerdote mesmo o coloque em tua boca. Reconhece-te pequeno diante do Senhor, deixai-te alimentar qual uma criança, pois se não te fizerdes criança não poderás entrar no Reino de Deus! Comunga sempre como se fosse a última comunhão de tua vida, e tratai ao Senhor com a mesma adoração e reverência que o faria se o visse vindo em Sua glória sobre as nuvens do Céu, escoltado pelas milícias celestes. Toda vez que o Senhor se faz presente sob as espécies eucarísticas Ele em certa medida antecipa a sua Parousia e a realização plena de Seu Reino sem fim. Por fim, paguemos amor com amor, recebendo com muito amor Aquele que nos amou primeiro e, amando-nos, amou-nos até o fim.



Do que devemos dizer ao Senhor quando estivermos unidos a Ele: Quando estivermos unidos a Cristo, devemos dizer que desejaríamos poder corresponder ao seu amor. Ofereçamo-nos também ao Pai Celeste juntamente com Jesus eucarístico pela salvação e redenção de todos os homens. Peçamos ao Senhor como São Boaventura para que Ele fira o nosso coração com o salutar dardo de sua abrasada Caridade! Digamos-Lhe que cremos de coração e confessamos com a língua que Ele está real e substancialmente presente neste admirável Sacramento tal como está glorioso reinando nos Céus! E assim, renovemos nossa Fé, Esperança e Caridade nEle e Lhe roguemos para que Ele aumente nossa Fé, nossa Esperança e nossa Caridade, reconhecendo-nos totalmente dependentes de necessitados dEle. Ofereçamos também a Hóstia Divina como desagravo pelos pecados nossos e dos demais homens, principalmente pelos pecados cometidos contra o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Jesus. Roguemos a Jesus, manso e humilde de coração, que faça nosso coração semelhante ao Seu. Peçamos primeiramente pelas necessidades da Santa Igreja, em especial do Papa, do Bispo de nossa diocese, de nosso pároco... peçamos depois a conversão dos que estão afastados da Igreja e de todos nós, pecadores. Depois peçamos pelas almas do purgatório. Por fim, peçamos por nossa pátria e pelas necessidades materiais e espirituais de todos os homens (nesse caso, podemos nomear em especial algumas pessoas queridas ou que sabemos muito necessitadas). Depois, façamos uma profunda ação de graças. Rendamos graças primeiramente por termos podido assistir ao Santo Sacrifício da Missa. Depois rendamos graças pela Comunhão e peçamos que ela seja para nós remédio para nossas enfermidades e sustento para nossa vida. Depois rendamos graças a Deus por todos os benefícios que concede a nós e a todas as pessoas (podemos nesse momento também nomear em especial algumas graças... o alívio de uma necessidade, a solução de um problema, as amizades confortantes e edificantes, as oportunidades de boas leituras ou boas conversas que tivemos, os momentos de oração...). Depois finalmente, rendamos Glória a Deus, unidos intimamente a Jesus, podendo recitar mentalmente o final do hino do Glória tu solus Sanctus tu solus Dominus tu solus Altissimus Iesu Christe cum Sancto Spirito in Gloria Dei Patris. Amen.



Das Graças que recebemos na Sagrada Comunhão: Quanto mais comunhões fizermos com devoção, mais graças poderemos receber. A comunhão freqüente é muito útil e salutar para o fortalecimento das virtudes, o domínio dos vícios e a constância na vida espiritual. Se porventura não pudermos comungar quotidianamente, nos dias em que estivermos afastados da comunhão eucarística, façamos um ato de comunhão espiritual, dizendo mentalmente a Jesus o quanto o amamos e o desejamos unirmo-nos a Ele e expressando-Lhe o desejo de recebê-lo com a mesma pureza, humildade e devoção com que o recebeu a Santíssima Virgem Maria, com o espírito e o fervor dos santos. Busquemos comungar quanto mais dias forem possíveis, para que o Pão Vivo descido do Céu seja cada vez mais o nosso “pão nosso de cada dia”.

Comunhão de Santa Catarina de Siena. Giovanni di Paolo, têmpera em madeira e ouro, c. 1460, Metropolitan Museum, New York.

Não comungar com a Cultura de Morte

"Hoje são assassinados, barbaramente assassinados inocentes indefesos; pessoas de outras raças e de proveniências diferentes também são suprimidas. [...] Estamos diante de uma loucura homicida sem igual. [...] Com gente como essa, com esses assassinos que pisam orgulhosos sobre as nossas vidas, eu não posso mais ter comunhão de povo!" (Bem-aventurado Clemens von Galen, Bispo de Münster, falecido em 1946)


A frase acima é um trecho de um pronunciamento do Beato Von Galen sobre as ímpias práticas assassinas do Nazismo. Diante daquela "loucura homicida", o heróico bispo de Münster expressa que não pode manter com essa gente "comunhão de povo", ou seja, que não pode compactuar com suas práticas iníquas, que deve denunciá-las e que deve mostrar-se contrário a elas, não fazer à impiedade nenhuma concessão, não unir-se aos que propagam a injustiça e nem omitir-se diante de tais práticas. Quão atuais são essas palavras! Vivemos igualmente hoje uma "loucura homicida sem igual" nessa cultura da morte que ao valorizar a vida terrena individual, deavaloriza a vida em seu valor intrínseco, relativizando o valor da vida alheia em favor dos prazeres e comodismos individuais. Diante dessa cultura que eleva o aborto como direito, a eutanásia como uma libertação do "fardo dos doentes e idosos", que condena à sociedade à morte pela perversão da família, exclamemnos com clareza: "não podemos manter comunhão de povo com essa gente!" Se ser moderno é aceitar essas práticas, então nós não somos modernos! Se ter "mente aberta" é aceitar essas práticas, então não temos "mente aberta"! Não façamos ao mal nenhuma conceção, pois não há acordo entre Cristo e Belial.
Recordemo-nos sempre da dignidade intrínseca do homem, criado à Imagem e Semelhança de Deus! Não podemos medir o valor de uma vida humana pela idade, pela cor, pela raça, pela etnia ou pelas capacidades físicas! Quem faz isso é um eugenista e está comungando da impiedade do Nazismo! E é essa ideologia eugenista que está por trás de todas essas políticas pró-aborto e pró-eutanásia! O homem fez do bem-estar individual e do pseudo-progresso social um novo Moloch, para quem imola seus filhos!

Diante desse hedonismo desefreado que vê nos filhos, nas crianças, nos doentes e nos idosos apenas um fardo, um estorvo e um empeçilho para a "curitção da vida" ostendamo-os esses que o mundo vê como fracos e inúteis e exclamemos confiantes como o diácono São Lourenço diante do magistrado romano "eis a riqueza da Igreja"!

Bendita a locurua de Deus que reduzirá a sabedoria dos ímpios ao silêncio!

São Lourenço ajudando os necessitados. Detalhe de um afresco do Beato Fra Angelico na Capela Nicolina, Vaticano, c. 1447-9.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

São Policarpo: "perseverar no jejum e na oração"

"Pois que não confessar que Jesus Cristo veio na carne [encarnou], este é anticristo; e quem não confessar o testemunho da cruz, este é do demônio; e quem perverter as profecias do Senhor para sua própria satisfação, e diz que não há nem ressurreição nem julgamento, este é o primeiro nascido de Satanás. Por isso abandonemos os discursos vãos das multidões, e suas falsas doutrinas, e voltemos aos ensinamentos que nos foram dados desde o princípio; permaneçamos sóbrios na oração, e perseveremos no jejum; suplicando em nossas orações ao Deus que vê tudo para que não nos deixe cair em tentação, pois o Senhor disse: O espírito está pronto, mas a carne é fraca." (São Policarpo de Esmirna, Epístola aos Filipenses, cap. VII)


Hoje, dia 23 de fevereiro, a Igreja celebra o martírio de São Policarpo, Bispo de Esmira, que confessou a fé no ano de 155. Diz a tradição que ele foi discípulo direto do Apóstolo São João. Para ler o relato de seu martírio, vide: http://cocp.50webs.com/fixas/martspolic.htm

Reflexões sobre a oração


Da necessidade da oração constante: somos obrigados a orar constantemente pelo I mandamento que nos ordena amarmos a Deus sobre todas as coisas. Assim, devemos constantemente elevar a Deus nossos louvores e ações de graças. Deus ordinariamente nos concede as graças que necessitamos mediante a oração, portanto, devemos pedir ao Senhor em nossas preces aquilo que necessitamos. Embora a eficácia da oração dependa do estado de graça, devemos orar mesmo quando não estivermos em estado de graça, pedindo a graça do arrependimento sincero, da conversão e de uma boa confissão. Os que estão em estado de graça, devem pedir a conservação e o aumento da graça em suas almas. Assim, devemos orar não somente quando nos sentimos necessitados, mas com frequência, para cultivarmos a união da alma com Deus e para recordamo-nos sempre de Seu Senhorio, de Seu Amor e das Graças que bondosamente nos concede (muitas delas recebemos sem mesmo percebê-las).

De como se deve combater a distração e a tibieza: é importante que busquemos recolhimento e concentração ao rezarmos, mas sabemos que isso não é fácil especialmente nos tempos presentes em que estamos acostumados a ambientes e hábitos barulhentos e agitados. Convém portanto, buscarmos um local silencioso em que se possa cultivar o silêncio e evitar distrações desnecessárias (a Capela do Santíssimo Sacramento em uma Igreja é um local bastante adequado; mas também podemos quando estivermos em casa fecharmos a porta do quarto enquanto rezamos para evitar nos distraírmos com os ruídos do restante da casa, como as conversas ou os aparelhos que estejam ligados no momento). Mesmo assim, nossa sensibilidade é inconstante e agitada e é possível que soframos distrações involuntárias, que convém afastarmos com rapidez. Outra coisa que pode ser feita é seguirmos a prática de Santa Teresinha do Menino Jesus, que colocava nas intenções de suas orações as pessoas e situações com as quais se distraía durante as preces. Outro problema que enfrenta-se na oração é a tibieza. A tibieza tenta-nos a afastarmos da oração, através do sentimento de preguiça ou aridez para com as coisas de Deus. Assim, nossa sensibilidade se esfria e temos a impressão de que não amamos a Deus ou de que a oração não nos traz frutos pelo fato de não estarmos sentindo nada ao rezarmos. Santa Teresa de Ávila relata que durante muitos anos ao rezar sentia-se ansiosa para que a oração terminasse logo e que usar parte de seu tempo para a oração parecia-lhe a mortificação mais custosa de todas. Igualmente a Bem-aventurada Elisabete da Trindade, após receber as primeiras consolações místicas, sentia muita dificuldade em fazer as orações ordinárias e quotidianas, justamente pelo fato de não sentir o mesmo fervor que experimentara na contemplação mística. Para combatermos a tibieza, é necessário mantermos a frequência na oração, tanto nas vezes em que ela nos conforta, tanto nas vezes em que aparentemente de nada nos aproveita. Dessa forma, podemos cultivar o amor a Deus, ordenando nossa sensibilidade sob nossa vontade, mortificando nossas paixões. Assim, fazemos da oração também uma penitência, usando-a também como forma de combatermos as paixões desordenadas.

De como cultivar a vida de oração durante todo o dia: É fato que não podemos passar todo nosso tempo rezando e que cada estado de vida exige um grau de oração distitnto dos demais. Contudo, podemos cultivar a vida de oração a todo momento fazendo de todas nossas ações um ato de glorificação de Deus e um sacrifício em favor da salvação das almas. Isso pode ser feito através de um ato de oferecimento de obras ou um sinal-da-cruz ao levantar-se, ao comer, ao deitar-se e ao iniciar alguma tarefa importante do dia. Lembremos de Santa Catarina de Siena em sua adolescência, que fazia os serviços domésticos oferecendo-os a Jesus, considerando sua casa como se fosse a da Sagrada Família. Esse oferecimento de nossas ações pode ser feito de forma especial na Santa Missa: durante o Ofertório, lembremos de fazermos um ato de oferecimento, depositando no altar de Deus as nossas necessidades, as nossas preces e louvores quotidianos, nossas ações-de-graças, nossas tristezas e alegrias, nossas intenções, bem como as intenções e necessidades daqueles que amamos. Assim faremos de nossa vida uma contínua oração.

Referências:
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, IV Parte: http://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendium-ccc_po.html#A ORAÇÃO CRISTÃ
Catecismo de São Pio X, II Parte: http://www.oracoes.info/catecismo2.html
Meditação do Pe. Francisco Fernández Carvajal sobre a oração: http://spedeus.blogspot.com/2011/02/meditacao-de-francisco-fernandez_19.html
LIGÓRIO, Santo Afonso de. El Gran medio de la oración: http://www.corazones.org/oraciones/sobre_oracion/gran_medio_oracion.htm
PHILIPON, Fr. Marie-Michel. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade. São Paulo: Paulus/ Carmelo Descalço do Brasil, 1988.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Cátedra de Pedro

Dia 22 de fevereiro, festa da Cátedra de São Pedro Apóstolo.


“A cátedra de Pedro, é a igreja principal da qual nasce a unidade episcopal” (ad Petri cathedram et ad ecclesiam principalem unde unitas sacerdotalis exorta est). - São Cipriano, Bispo de Cartago, século III.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Picasso por si mesmo

"Na arte, o povo não procura mais consolação e exaltação, mas os refinados, os ricos, os ociosos, os destiladores de quintessências buscam o que é novo, estranho, extravagante, escandaloso. E eu mesmo, desde o cubismo e além dele, eu contentei esses mestres e esses críticos com todas as bizarrices mutáveis que me passaram pela cabeça, e quanto menos eles me compreendiam, mais eles me admiravam.
A força de me divertir com todas essas brincadeiras, com todos esses quebra-cabeças, enigmas,e arabescos, eu fiquei célebre, e muito rapidamente. E a celebridade para um pintor significa vendas, lucros, fortuna, riqueza. E hoje, como o senhor sabe, eu sou famoso, eu sou rico. Mas, quando estou sozinho comigo mesmo, não tenha a coragem de me considerar um artista no sentido antigo e grande da palavra.
Giotto, Ticiano, Rembrandt e Goya foram garndes pintores : eu sou apenas um divertidor do público que compreendeu o seu tempo eexplorou o melhor que pôde a imbecilidade, a vaidade, a avidez de seus contemporâneos. É uma amarga confissão a minha, mais dolorosa do que ela parece. Mas, ela tem o mérito de ser sincera"
(Pablo Picasso, carta a Giovanni Papini, publicada em 1952. Citada in "Découvertes" n°90, 1972, editorial "Picasso pintado por si mesmo." Citado in "Cahiers de Chiré" n°4, 1989, p.354)

Ninguém vive somente para si

“Fomentemos aquelas virtudes que, juntamente com a nossa salvação, aproveitam principalmente ao próximo... Nas coisas terrenas, ninguém vive para si próprio: o artesão, o soldado, o lavrador, o comerciante, todos sem exceção contribuem para o bem comum e para o serviço do próximo. Com muito mais razão há de ser assim no terreno espiritual, porque esta é a verdadeira vida. Quem vive só para si e despreza os outros é um ser inútil, não pertence à nossa linhagem.”
(São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 77, 6.)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Memória do Bem-aventurado Fra Angelico, OP



Hoje relembramos o dia em que o Bem-aventurado Frei Giovanni de Fiesole (Fra Angelico), pintor pertencente à Ordem Dominicana, faleceu, despertando assim para a vida da bem-aventurança celeste.

Seu biógrafo, Giorgio Vassari escreveu sobre o dito beato que:

"Excelente pintor e miniaturista, e ótimo religioso, ele merece, por ambas as razões, que dele se tenha uma honorável memória."
“Ele era caridoso com as outras pessoas e moderado, vivia castamente e afastado das tentações do mundo.
Ele dizia frequentemente que qualquer um que praticasse a arte da pintura necessitava de uma vida calma e sem perturbações, e que o homem que retratasse os atos de Cristo deve viver com Cristo. [...] Os santos que ele retratou pareciam verdadeiros santos mais próximos do que aqueles pintados por qualquer outro artista.”

Para consultar parte da magnífica obra artística do Beato Angelico, vide: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/a/angelico/index.html

De contemplatione Creationis

"Caeli enarrant Gloriam Dei et opera manuum eius adnuntiat firmamentum" (Sl 18, 2)

Se as coisas criadas vistas de maneira desordenada nos são causa de ruína, vistas à luz da Fé e em sua reta ordem, podem nos elevar às meditação das realidades superiores. A Sagrada Escritura diz que Deus viu tudo que havia criado e viu que tudo era bom. Mas a Criação foi corrompida quando pela desobediência de nossos primeiros pais foi introduzido no mundo o pecado. A concupiscência muitas vezes atua como uma venda, impedindo-nos de enxergar o verdadeiro valor das coisas criadas. O Homem certamente é o ápice das coisas terrenas, e tudo na Terra foi criado para servi-lo.
Há no mundo criado como que marcas que Deus deixou, de tal forma que as coisas falam a respeito dEle. Desta forma, a água que lava nosso corpo simboliza a misericórdia de Deus que lava nossas iniqüidades; o fogo que nos aquece representa o abrasado Amor de Deus pelos seus filhos. O movimento do Sol que oticamente assemelha-se a um caída e ressurgimento nos recorda o Cristo morto e ressurecto. O grão de mostarda, que é pequeno e gera grandes árvores, nos recorda a Fé. Nosso Senhor usou frequentemente analogias com a natureza para explicar as realidades espirituais.
Desta forma, sempre que olharmos para a beleza de uma paisagem natural, lembremos da bondade de Deus que nos deu tantas coisas para nos servirmos e que dignou-Se dar-nos a graça de contemplar a Beleza de sua obra, que reflete alguns aspectos dEle que é a Beleza por excelência. Também ao vermos a beleza das obras das mãos humanas, lembremos que também nossa inteligência e capacidade é dom de Deus. Ao vermos os seres humanos, lembremos de sua dignidade intrínseca de pessoas criadas à Imagem e Semelhança de Deus, com inteligência e vontade livres como a dEle. E assim, demos graças a Deus por todas as coisas e façamos tudo no desejo de engrandecer Seu Nome e nos esforçando para atrair todos os homens para Ele, pois como disse Santo Agostinho, nosso coração só estará quieto quando repousar em Deus.
Assim, faremos com que toda a Criação cante a Glória de Deus, tal como foi belissimamente expresso por São Francisco de Assis em seu "Cântico das Criaturas". E para que possamos ver cada vez mais claramente a ação de Deus em todas as coisas, peçamos ao Senhor para que aumente sempre a nossa Fé.

Carta de um mártir espanhol á sua noiva

Carta escrita pelo Bem-aventurado Bartolomé Blanco Márquez, espanhol prisioneiro dos comunistas, à sua noiva Maruja pouco antes de sua morte:

"Prisão Provincial. Jaén, 1º de outubro de 1936.

Maruja da alma:

Sua lembrança me acompanhará à tumba e enquanto haja um batimento do coração em meu coração, este palpitará em carinho para ti. Deus quis destacar estes afetos terrestres, enobrecendo-os quando os amamos nele. Por isso, embora em meus últimos dias Deus seja minha tocha e meu desejo, não impede que a lembrança da pessoa mais querida me acompanhe até a hora da morte.

Estou assistido por muitos sacerdotes que, qual bálsamo benéfico, vão derramando os tesouros da Graça dentro de minha alma, fortificando-a; Miro a morte de cara e na verdade te digo que nem me assusta nem a temo.

Minha sentença no tribunal dos homens será minha maior defesa ante o Tribunal de Deus; eles, ao querer me denegrir, enobreceram-me; ao querer me sentenciar, têm-me absolvido, e ao tentar me perder, salvaram-me. Entende-me? Está claro! Posto que ao me matar me dão a verdadeira vida e ao me condenar por defender sempre os altos ideais de Religião, Pátria e Família, abrem-me de par em par as portas dos céus.

Meus restos serão inumados em um nicho deste cemitério de Jaén; quando ficam poucas horas para o definitivo repouso, só quero pedir-te uma coisa: que em lembrança do amor que nos tivemos, e que neste instante se acrescenta, atenda como objetivo principal à salvação de sua alma, porque dessa maneira conseguiremos nos reunir no céu para toda a eternidade, onde nada nos separará.

Até então, pois, Maruja de minha alma! Não esqueça que do céu lhe olho, e procura ser modelo de mulheres cristãs, pois ao final da partida, de nada servem os bens e gozos terrestres, se não acertarmos a salvar a alma.

Um pensamento de reconhecimento para toda sua família, e para ti todo meu amor sublimado nas horas da morte. Não me esqueça, minha Maruja, e que minha lembrança te sirva sempre para ter presente que existe outra vida melhor, e que o consegui-la deve ser a máxima aspiração.

Sejas forte e refaz sua vida, é jovem e boa, e terá a ajuda de Deus que eu implorarei desde seu Reino. Até a eternidade, pois, onde continuaremos nos amando pelos séculos dos séculos.

Bartolomé".

Os santos e a Santa Missa


"O martírio não é nada em comparação com a Santa Missa. Pelo martírio, o homem oferece à Deus a sua vida; na Santa Missa, porém, Deus dá o seu Corpo e o seu Sangue em sacrifício para os homens.
Se o homem reconhecesse devidamente esse mistério, morreria de amor.
A Eucaristia é o milagre supremo do Salvador; é o Dom soberano do Seu amor." (Santo Tomás de Aquino)

"Fica sabendo, ó cristão, que mais se merece assistir devotamente uma só Missa (na igreja), do que distribuir todas as riquezas aos pobres e peregrinar toda a Terra." (São Bernardo de Claraval)

"Sinto-me abrasado de amor até o mais íntimo do coração pelo santo e admirável Sacramento da Santa Missa e deslumbrado por essa clemência tão caridosa de Nosso Senhor, a ponto de considerar grave falta , para quem, podendo assistir a uma Missa, não o faz." (São Francisco de Assis)

"Todas as Missas tem um valor infinito, pois são celebradas pelo próprio Jesus Cristo, com uma devoção e amor acima do entendimento dos Anjos e dos homens, constituindo o meio mais eficaz, que nos deixou Nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação da humanidade." (Santa Matildes)

"Nosso Senhor Jesus Cristo nos concede tudo o que Lhe pedimos na Santa Missa; e o que mais vale é que nos dá ainda o que nem sequer cogitamos pedir-Lhe e que, entretanto, nos é necessário.
Cada Santa Missa a que assistires, alcançar-te-á, no Céu, maior grau de glória." (São Jerônimo)

"A Santa Missa é a obra na qual Deus coloca sob os nossos olhos todo o amor que Ele nos tem; é de certo modo, a síntese de todos os benefícios que Ele nos faz." (São Boaventura)

Extraído de: http://www.missaest.hpg.com.br/santos.htm









quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A Arte como apologia da Fé

"A única, a verdadeira apologia do cristianismo pode se reduzir a dois argumentos: os santos que a Igreja produziu e a arte que germinou em seu seio. O Senhor torna-se crível pela magnificência da santidade e da arte, que explodem dentro da comunidade crente." (Joseph Ratzinger, em A fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga.)


A Cruz e os santos


Mt 16, 24 – “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”.
Gl 6, 12.14 – “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.

"O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo Amado." (São João da Cruz)

“Aos pés do Crucifixo aprende-se a verdadeira ciência dos Santos.” (São Paulo da Cruz)

“A vida santíssima de Jesus, foi toda cruz.” (S. Paulo da Cruz)

"Quem não busca a cruz de Cristo não busca a glória de Cristo.
Quando tiveres algum aborrecimento e desgosto, lembra-te de Cristo crucificado e cala.
Queres alguma palavra de consolação? Olha o meu Filho, submisso, humilhado, por meu amor, e verás quantas palavras te responde." (São João da Cruz)

A Imagem de plano de fundo do blog


Explicando a imagem de fundo do blog:

Trata-se de uma iluminura da Bíblia de Winchester, uma bíblia ilustrada feita para a Catedral de Winchester (Inglaterra) entre os anos de 1160 a 1170, encomendada provavelmente pelo Bispo da cidade, Henrique de Blois, sobrinho do rei Henrique I da Inglaterra. A iluminura em questão retrata cenas da vida do Rei David: nos dois primeiros quadros temos a luta de David contra o gigante filisteu Golias; no terçeiro quadro temos o episódio em que o rei Saul, movido pela ira, tenta matar David jogando uma lança contra ele; no quarto quadro vemos a unção régia de David pelo profeta Samuel; nos dois últimos quadros está retratada a morte de Absalão, filho rebelde de David. O artista representou os personagens com idumentárias européias do século XII, pois era possivelmente o único referencial imagético que possuía, haja vista que se conhecia poucos objetos e fontes materiais antigas no medievo.

A loucura de Deus e a sabedoria dos homens


“A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). 20. Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Vede, irmãos, o vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus.” (I Cor 1, 18-29)


Esse trecho da primeira epístola de São Paulo aos Coríntios nos mostra como a linguagem da cruz era considerada estranha às lógicas humanas (e sempre o será). Isso não queri dizer que a razão humana não presta (como pretendem os fideístas) mas que a dita razão sozinha não compreende a ação da Divina Providência na história e em nossas vidas. De fato, Deus age muitas vezes de forma aparentemente estranha para nos mostrar que Sua Sabedoria é infinita e que nossa sabedoria é limitada e que, por isso, não pode ser motivo de vanglória. Muitas vezes essa ação de Deus parece-me carregar-se de um certo toque lúdico, lembrando-se do que dizia o salmista: “Aquele, porém, que mora nos Céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo”. (Sl 2, 4). Assim, Deus humilha toda a sabedoria pretensiosa e mostra a soberania de seus desígnios providenciais.
Os judeus esperavam que o Cristo viesse com muitos cavalos e exércitos. Ao invés, disso, veio como uma criança, nascida em um estábulo. E o prepotente rei Herodes que havia subjugado os sacerdotes do Templo, não foi capaz de matar a criança, pois não podia impedir os decretos da Divina Providência. Lembremos também de como Nosso Salvador foi visto com admiração a disputar acerca das Escrituras com os Doutores da Lei. Um menino ensinando os doutores! Tal como havia predito Isaías (Is 29,14) no trecho citado por São Paulo. Oafresco pintado por Pinturrichio no século XV que ilustra essa postagem expressa bem essa mensagem: o menino Jesus está de pé ensinando e os Doutroes estão com seus livros jogados ao chão, como que evidenciando que eles não eram nada diante da Sabedoria Encarnada. Por fim, a própria Paixão e Morte de Cristo na cruz mostra como ele derrotou o Demônio pela humilhação e obediência. Quando o demônio julgava ter vencido era precisamente o momento de sua derrota, pois fomos libertos dele pela Cruz!
Há outros dois exemplos interessantes da história. O primeiro é Santa Catarina de Siena. Em um momento do século XIV em que a Igreja se achava em crise e os papas mostravam comportamento vacilante, a Cristandade assiste ao espetáculo de uma moça analfabeta aconselhando e cobrando maior firmeza do Papa e dos Cardeais! O próprio papa Urbano VI ao escutá-la disse atônito aos Cardeais: “as palavras corajosas dessa mulher nos envergonham!”. O segundo exemplo é semelhante: quando Deus quis agir na libertação da França do jugo Inglês (lembremos que a pretensão inglesa à coroa francesa era ilegítima haja vista que Eduardo III estava vetado à sucessão do trono francês pela Lei Sálica) escolheu uma adolescente, camponesa e analfabeta (Santa Joana d’Arc), para comandar os exércitos franceses. Algo bastante interessante se pensarmos que os soldados não se sentiram à vontade de recuar enquanto uma moça continuava avançando no campo de batalha. E também seria uma humilhação para a Inglaterra e seus aliados (que causou tanta ira que acabaram tramando a condenação de Santa Joana d’Arc), mostrando que o Senhor é capaz de agir com o instrumento que Ele quiser!
Peçamos portanto ao Senhor a virtude da fortaleza para aprendermos a aceitar e abraçar nossas cruzes, bem como a virtude da Fé para que possamos olhar tudo com uma visão sobrenatural, lembrando que a Divina Providência está sempre agindo e que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (cfr. Rm 8, 28).

Ave Crux spes nostra unica!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A Crise da Civilização

É natural que se vamos tratar de civilização comecemos por tratar da crise da civilização do mundo moderno. Para combater uma crise, precisamos primeiramente identificar as causas. Por hora, deixarei aqui apenas uma breve reflexão sobre três aspectos. São eles: a perda do espírito de sacrifício, a crise da autoridade e a perversão da verdade.

I - Como cristãos aprendemos o valor transcendental dos sofrimentos, adversidades e vicissitudes com o qual nos defrontamos na vida. Todas essas coisas, vistas à luz da Cruz de Cristo, ensinam-nos a cultivar um espírito de sacrifício, regado pela Caridade, pela Fé e pela Esperança. Acontece que, em uma escala menor, esse espírito de sacrifício é necessário ao próprio funcionamento da sociedade. Dado que, como enfatizava Aristóteles, o homem é um ser social e político, ele necessita viver em sociedade para progredir. E esse viver em sociedade exige um certo grau de renúncia em favor do bem comum e em favor dos demais. O homem não vive somente para si. E isso já começa no convívio familiar. Um pai de família não pode viver mais em função somente de suas necessidades, mas tem que estar ciente de que suas ações agora afetam a vida também de sua esposa e de seus filhos. Nesse sentido, muitas vezes ele precisará renunciar a certas coisas para poder atender melhor as necessidades de sua família (terá de gastar o dinheiro primordialmente nas despesas familiares do que nos seus lazeres, por exemplo). E vale o mesmo do que foi exposto para as mães, filhos e etc.
E de que forma isso se relaciona à crise familiar e à crise da Civilização? Simples. O mundo moderno vive sob a mentalidade de um exacerbado hedonismo: a busca do prazer (especialmente o prazer sensível) e do conforto como fins em si mesmo. O hedonismo é essencialmente individualista, pois coloca o bem individual como o bem mais importante. Dessa forma, a juventude desaprende a cultivar o espírito de renúncia e sacrifício já desde cedo, nutrindo-se desordenadamente dos prazeres. Dessa forma, gasta-se, desperdiça-se o fervor e a energia particulares desta idade para o prazer ao invés de trabalhá-las de forma virtuosa. Assim, vemos como é freqüente entre os jovens de hoje a repulsa por um compromisso de amor sério, pelo casamento, pela constituição de uma família. Dizem eles que não querem casar-se e nem constituir família, pois a vida é tão curta e querem "curtir" a vida, especialmente a juventude, sempre prorrogando, ou mesmo negando totalmente as responsabilidades e deveres da vida. Isso gera aquilo que Hannah Arendt chamou de "infantilização da sociedade": as pessoas querem viver como eternas crianças, onde suas responsabilidades são relegadas a terceiros enquanto elas apenas desfrutam das bonança. Sendo assim, diminuí-se o número de famílias estruturadas e sólidas, o que prejudica a formação das novas gerações (que são criadas longe da família e educadas com princípios duvidosos e nocivos) e mesmo impede o crescimento da população para continuar sustentando as complexas sociedades (vide a Europa com crise no sistema de previdência haja vista a presença desproporcional de jovens com relação a uma alta percentagem de idosos). A queda do espírito se sacrifício amolece a vontade da alma humana, fazendo com que também todas nossas atividades sejam medíocres, não recebendo de nós todo o afinco e empenho que deveria ser empregado. Os homens não sabem mais por que vivem e por que morrem e assim não sabem mais como encarar a vida e a morte.

II- O espírito revolucionário, odioso à toda a desigualdade, hierarquia e autoridade é oriundo da sensualidade, como lembravam o Papa Pio XII e o Professor Plínio Corrêa de Oliveira. Muitas ideologias ao longo dos séculos foram imbuídas desse "espírito revolucionário". Deter-me-ei apenas em duas delas: a pedagogia moderna e a idolatria. A pedagogia moderna afetou especialmente o âmbito familiar e escolar ao retirar dos pais e professores a figura de autoridade. Quis fazer das relações familiares e escolares uma mera relação entre amigos, uma relação horizontal e não vertical, hierárquica. Os filósofos antigos e medievais sabiam do grande mal que a Tirania causava a sociedade, mas mesmo assim consideravam que a ausência de governo era pior do que um mal governo. De fato, o caos reina nas famílias e nas escolas onde não há mais um referencial de autoridade. E se não há ordem, não há bom funcionamento. De fato, há alguém que negue que as famílias e a educação estão em crise? Todos temos conhecimento se situações deploráveis de escolas e de famílias desestruturadas. As ideologias têm o costume de prometer paraísos na teoria e na prática produzir centelhas do Inferno. As crianças não vêem mais seus pais como chefes da casa, a quem devem amor, respeito, reverência e piedade filial. Vêem eles apenas como "amigões mais velhos" que os sustentam (e isso para não falar dos casos mais complicados em que a atitude não-exemplar dos pais contribuem para a formação dessa imagem). Assim, sente-se à vontade para mandarem em seus pais e assim crescem mimadas, o que as torna menos capazes de enfrentar as contrariedades da vida. Caso análogo ao dos professores: as crianças não os vêem mais como mestres, que têm o dever de lhes ensinar e de manter a ordem necessária ao aprendizado. E, de fato, muitos professores contribuíram para isso ao usar de didáticas que os transformam em palhaços de circo. Assim, alunos não respeitam mais seus professores, fazem o que querem em sala, acabando com a ordem e impossibilitando um bom aprendizado para a classe. Quando mencionei idolatria, não me referia às religiões politeístas (isso seria assunto para um outro post...), mas a tendência do homem de tirar Deus do seu devido lugar na vida individual e social. Quando se tira Deus, sempre se coloca algo em Seu lugar: o prazer, a classe, a raça, o sangue, a nação... enfim, creio que a História do século XX ilustra perfeitamente isso. Essa tendência permanece hoje no hedonismo: o hedonismo gera a tirania de todos sobre todos. Cada pessoa é o árbitro de si mesmo e de todos: o seu bem individual está acima de tudo. Assim, as pessoas perdem os escrúpulos de passarem uma por cima das outras quando seu prazer, seu conforto esteja em jogo. E assim reina o caos, uma guerra perétua entre todos recordando o que disse Deus pela boca do profeta Isaías: non est pax impiis (Is 57, 21).

III- A perversão da Verdade é nada mais do que aquilo que o Papa Bento XVI, quando ainda era Cardeal falou na homilia da Missa pro eligendo Romano Pontifice de 2005: a ditadura do relativismo. O homem torna a si mesmo o árbitro da Verdade, igualando Verdade e opinião. Assim, cada um fica satisfeito com suas próprias opiniões vivendo em uma falsa harmonia e em um falso consenso, pois esta aparente paz dura somente até que uma opinião incomode o comodismo de outra pessoa. O relativismo torna a longo prazo impossível o convívio social, pois nega a existência de valores e princípios objetivos que são necessários, por exemplo, para a elaboração de leis em uma sociedade. Se não há Verdade objetiva, como classificar o que é permitido e o que não é? Isso mostra o nível degradante da crise da Civilização, que nega a própria lógica.

Como podemos notar, essas três causas se entrelaçam e uma influencia o surgimento da outra, simultaneamente. É contra essa crise que pretendemos combater. Para tal, recordemo-nos das palavras do Papa São Pio X: "Se alguém pedir uma palavra de ordem, sempre daremos esta e não outra: restaurar todas as coisas em Cristo (instaurare omnia in Christo)". De fato, ao iluminarmos as realidades temporais com a mensagem de Cristo, ensinaremos como configurados à cruz de Cristo, recobrarmos e aperfeiçoarmos o espírito de sacrifício. Aprendendo de Cristo que foi obediente à vontade do Pai Celeste saberemos ser obedientes (de forma ordenada, obedecendo sempre a Deus primeiro, certamente) às autoridades queridas ou permitidas sobre nós pela Divina Providência, ao começar pelo âmbito familiar. Recordando que Cristo é a própria Verdade encarnada, nos lembraremos sempre de buscar a Verdade objetiva e pura, evitando assim as falsas soluções.