“A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). 20. Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Vede, irmãos, o vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus.” (I Cor 1, 18-29)
Esse trecho da primeira epístola de São Paulo aos Coríntios nos mostra como a linguagem da cruz era considerada estranha às lógicas humanas (e sempre o será). Isso não queri dizer que a razão humana não presta (como pretendem os fideístas) mas que a dita razão sozinha não compreende a ação da Divina Providência na história e em nossas vidas. De fato, Deus age muitas vezes de forma aparentemente estranha para nos mostrar que Sua Sabedoria é infinita e que nossa sabedoria é limitada e que, por isso, não pode ser motivo de vanglória. Muitas vezes essa ação de Deus parece-me carregar-se de um certo toque lúdico, lembrando-se do que dizia o salmista: “Aquele, porém, que mora nos Céus, se ri, o Senhor os reduz ao ridículo”. (Sl 2, 4). Assim, Deus humilha toda a sabedoria pretensiosa e mostra a soberania de seus desígnios providenciais.
Os judeus esperavam que o Cristo viesse com muitos cavalos e exércitos. Ao invés, disso, veio como uma criança, nascida em um estábulo. E o prepotente rei Herodes que havia subjugado os sacerdotes do Templo, não foi capaz de matar a criança, pois não podia impedir os decretos da Divina Providência. Lembremos também de como Nosso Salvador foi visto com admiração a disputar acerca das Escrituras com os Doutores da Lei. Um menino ensinando os doutores! Tal como havia predito Isaías (Is 29,14) no trecho citado por São Paulo. Oafresco pintado por Pinturrichio no século XV que ilustra essa postagem expressa bem essa mensagem: o menino Jesus está de pé ensinando e os Doutroes estão com seus livros jogados ao chão, como que evidenciando que eles não eram nada diante da Sabedoria Encarnada. Por fim, a própria Paixão e Morte de Cristo na cruz mostra como ele derrotou o Demônio pela humilhação e obediência. Quando o demônio julgava ter vencido era precisamente o momento de sua derrota, pois fomos libertos dele pela Cruz!
Há outros dois exemplos interessantes da história. O primeiro é Santa Catarina de Siena. Em um momento do século XIV em que a Igreja se achava em crise e os papas mostravam comportamento vacilante, a Cristandade assiste ao espetáculo de uma moça analfabeta aconselhando e cobrando maior firmeza do Papa e dos Cardeais! O próprio papa Urbano VI ao escutá-la disse atônito aos Cardeais: “as palavras corajosas dessa mulher nos envergonham!”. O segundo exemplo é semelhante: quando Deus quis agir na libertação da França do jugo Inglês (lembremos que a pretensão inglesa à coroa francesa era ilegítima haja vista que Eduardo III estava vetado à sucessão do trono francês pela Lei Sálica) escolheu uma adolescente, camponesa e analfabeta (Santa Joana d’Arc), para comandar os exércitos franceses. Algo bastante interessante se pensarmos que os soldados não se sentiram à vontade de recuar enquanto uma moça continuava avançando no campo de batalha. E também seria uma humilhação para a Inglaterra e seus aliados (que causou tanta ira que acabaram tramando a condenação de Santa Joana d’Arc), mostrando que o Senhor é capaz de agir com o instrumento que Ele quiser!
Peçamos portanto ao Senhor a virtude da fortaleza para aprendermos a aceitar e abraçar nossas cruzes, bem como a virtude da Fé para que possamos olhar tudo com uma visão sobrenatural, lembrando que a Divina Providência está sempre agindo e que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus (cfr. Rm 8, 28).
Ave Crux spes nostra unica!
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