terça-feira, 24 de dezembro de 2013

São Leão Magno: Sermão do Natal do Senhor


"Caríssimos, animados da confiança que nasce de tão grande esperança, permanecei firmes na fé sobre a qual fostes estabelecidos, para que esse mesmo tentador, de cujo domínio Cristo vos subtraiu, não vos seduza novamente com algumas de suas ciladas e não corrompa as alegrias próprias desse dia mediante a habilidade de suas mentiras. Porque ele zomba das almas simples, servindo-se da crença perniciosa de alguns, para os quais a solenidade de hoje recebe sua dignidade não tanto no nascimento de Cristo quanto do levantar-se, como eles dizem, do “novo sol”. O coração desses homens está envolto em trevas, e eles são estranhos a todo progresso da verdadeira luz, porque ainda seguem os erros mais estultos do paganismo e, não conseguindo elevar o olhar de seu espírito acima do que contemplam com seus olhos corporais, honram com o culto reservado a Deus, os luminares colocados a serviço do mundo.

Longe das almas cristãs essa superstição ímpia e essa mentira monstruosa. Nenhuma medida poderia traduzir a distância que separa o eterno das coisa temporais; o incorpóreo, das coisas corporais; o Senhor, das coisas que lhe estão submetidas, porque, embora elas tenham uma beleza admirável, não têm a divindade, a única que deve ser adorada.

O poder, a sabedoria e a majestade que devem ser honrados são os que criaram do nada todo o universo e, segundo uma razão onipotente, produziram a terra e o céu nas formas e dimensões de sua escolha, O sol, a lua e os astros são úteis para aqueles que sabem tirar proveito deles; sã0 belos para aqueles que os olham; mas que, por motivo deles, sejam dadas graças ao seu autor e que seja adorado o Deus que os criou, não a criatura que o serve. Louvai, pois, a Deus, caríssimos, em todas as suas obras e em todos os seus juízos. Que nenhuma dúvida alfore em vós no tocante à fé na integridade da Virgem e em seu parto virginal. Honrai com uma obediência santa e sincera o mistério sagrado e divino da restauração do gênero humano. Uni-vos a Cristo, nascido em nossa carne, a fim de merecerdes ver reinando em sua majestade esse mesmo Deus de glória que, com o Pai e o Espírito Santo, permanece na unidade da divindade pelos séculos dos séculos. Amém."



Extraído de: http://humanitatis.net/?p=2780

sábado, 27 de abril de 2013

A Revelação Divina e o Processo Civilizador

Baseado em palestra ministrada pelo Pe. Gabriele Brusco, LC no Retiro de Convivência e Espiritualidade realizado pelo Grupo de Estudos Joseph Ratzinger, de Curtiba, em Mandirituba no dia 25 de março de 2012.
As três etapas da Revelação como progressivo moldador dos costumes no Povo de Deus.

sábado, 30 de março de 2013

Páscoa: uma alegria que não pode ser tirada


Hoje é o dia mais importante do ano, iniciado com a Solene Vigília Pascal. Neste dia a cerimônia da Missa é mais longa, com leituras que sintetizam toda a História da Salvação. A igreja começa no escuro e as luzes se acendem ao badalar dos sinos e ao entoar do hino Gloria in excelsis Deo. Hoje celebramos aquela alegria do qual Cristo falou ainda no dia de sua agonia aos discípulos, referindo-se a essa como uma "alegria que ninguém vos poderá tirar". Cristo ressucitou, venceu a morte. Ninguém poderá nos tirar essa razão de esperança.


É muito significativo um dos primeiros gestos da Liturgia da Vigília: a chama do Círio Pascal é passada para as pequenas velas portadas pelos fiéis. Tal gesto mostra que recebemos, tal como a pequena vela, a Fé de Cristo através da Igreja e que essa Fé é uma chama que espalha-se sem contudo dissolver-se ou diminuir-se. Cristo é a Luz do Mundo e unidos a Ele somos também chamados a ser Luz do Mundo. Vivendo os valores do Evangelho no nosso quotidiano, encarando nossos estudos, trabalhos, afazeres e todos os aspectos do dia como um serviço a Deus e ao próximo poderemos alcançar a felicidade essencial de nossa vocação cristã: a santidade! Que nossa vida seja um contínuo apostolado. Como a chama que se espalha, espalhemos a alegria de Cristo ressucitado em nosso meio!





sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Semente ou molho? Reflexão para o ano da Fé

Quando Nosso Senhor Jesus Cristo comparou a Fé ao grão da mostarda, penso que alguns sempre tentaram a pensá-la como um molho de mostarda. Explico-me: a ação da semente ou grão é interior: cai no sulco da terra, germina e cresce, fixando raízes. A ação do molho, ao contrário, esparrama-se por cima do alimento a fim  de conferir-lhe um distinto sabor que contudo, não passa de um disfarçe e de mera exterioridade, não integrando-se ao alimento sobre o qual se derramou. Assim, podemos refletir sobre o Apostolado e o Triunfalismo.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Quem eram os magos do Evangelho II - novas considerações

Ano passado publiquei um post sobre os magos relatados no Evangelho de Mateus nas quais me baseava nas considerações de Walter Drum, na Enciclopédia Católica, que sustentava como hipótese mais provável a de que os magos seriam indivíduos pertencentes a uma antiga casta sacerdotal persa que, no reinado da dinastia dos Partos, integravam o conselho real. Tal hipótese era referendada por alguns testemunhos da Tradição que se referiam aos magos como vindos da Pérsia, bem como pela iconografia cristã da Antiguidade Tardia que sempre os representou com a indumentária persa (calças compridas, túnica curta, capa e e o tradicional gorro frígio).
Contudo, recenetmente tive contato com comentários exegéticos do Pe Ignacio de Nicolas, dos padres escolápios na qual o exegeta sustenta uma distinta hipótese: os magos pertenceriam ao povo dos árabes nabateus.[1] Pe. Ignacio argumenta que, se fossem persas, os magos teriam adentrado pela porta norte de Jerusalém, ao contrário dos Nabateus, que entrariam pelo Leste, de forma que poderiam ser mais facilmente identificados como visitantes "vindos do Oriente". Os Nabateus eram um povo de origem árabe, formando um reino próximo á Judéia. O reino dos nabateus teve relações comerciais com Herodes, embora tenha havido guerra entre Herodes e os nabateus em alguns momentos. Segundo o exegeta escolápio, os nabateus comercializavam mirra, incenso e ouro com os judeus, o que faria com que fosse mais provável os magos serem nabateus, dado os presentes oferecidos ao Menino Jesus terem sido ouro, incenso e mirra, que não eram produtos habitualmente comercializados pelos persas na região. De fato, alguns autores da Patrística sustentaram igualmente que os magos teriam provindo da Árabia ou alguma região próxima. A arte paleo-cristã, por outro lado, - ao menos no que as interpéries do tempo nos legou - , parece ter aderido unanimemente à possibilidade dos magos serem persas.
Parece-me, entretanto, que ambas as hipóteses são verossímeis. Se por um lado a hipótese do Pe. Nicolas explicaria melhor a questão dos presentes oferecidos, penso que a hipótese dos magos serem persas explicaria o temor de Herodes com a visita dos magos: basta lembrarmos que Herodes subiu ao poder como rei da Judéia em 37 a.C. destronando o monarca asmoneu Antígono, que era controlado pelo Império Parto. Não teria Herodes pensando que os magos, sendo persas, estariam buscando um outro rei, que fosse do agrado do Rei dos partos?
Mesmo não havendo consenso com relação à origem dos magos, o que importa acima de tudo é que este episódio nos mostra que Cristo veio inaugurar uma aliança para todos os povos, chamando os magos como primícias entre os povos gentios, mostrando que Deus guia todos os povos em direção do Seu Filho, Jesus.

Notas:
[1] O comentário do Pe. Ignacio pode ser encontrado aqui: http://xppascom.files.wordpress.com/2011/02/exegese-ano-a-mateus-domingo-da-epifania-mt-2-1-12.pdf