Historia magistra vitae - "História, mestra da vida" - disse o famoso orador e homem público da antiga República Romana, Marco Túlio Cícero (De oratore, II, 9). Essa frase resume uma concepção muito cara aos antigos acerca do caráter propedêutico e exemplar da História humana. Tão forte era essa concepção, que o modo de escrever a História dos antigos gregos e romanos era o que Eric Auerbach denominou de estilo "retórico-moralista": os historiadores a partir de seu relato traçavam juízos acerca dos atos e dos indivíduos relatados. Contudo, esse modo de fazer História dos gregos e romanos levava em conta mais fatores políticos e a vida dos homens notáveis da sociedade. Com as mudanças na historiografia ao longo de muitos séculos, a História passou a valorizar outros aspectos da sociedade (como o quotidiano, outros grupos sociais, práticas religiosas, hábitos culturais, etc) e cada vez mais ressaltou a imoportância dos contextos históricos de cada época, local e cultura. Até aqui, um resumo muito canhestro das mudanças na concepção de História (Historiografia nunca fora meu ponto forte nos tempos da faculdade de História...).
É verdade que os contextos culturais e as circunstâncias mudam frequentemente na História humana, entretanto, existem fatores que são comuns a todo ser humano, posto que possuímos a mesma natureza humana. Os homens que nos precederam foram de carne e osso como nós. Tinham as mesmas faculdades humanas do que nós: inteligência, vontade e sensibilidade. Em todas as épocas os seres humanos experimentaram o sofrimento, júbilo, os prazeres, os vícios e as virtudes...
Certa vez ouvi na faculdade uma afirmação de que a História não poderia servir de exemplo, posto que, segundo o autor da afirmação, "ninguém aprende com os erros dos outros". É bem verdade que aprende-se muito mais fácil com a experiência própria, quando se experimenta as vicissitudes da vida na própria pele, mas é também verdade que podemos aprender com a experiência alheia, com os exemplos que nos são contados ou que vivenciamos, com os conselhos que nos dão. Trata-se, contudo, de um ato livre, responsável e consciente: percebermos e aceitarmos o ensinamento que a experiência alheia nos mostra. Isso é certamente mais difícil do que a experiência própria, pela qual aprendemos "na marra".
Certamente não podemos pelo simples ensino da História impedir que os homens repitam os erros do passado (muitas vezes julgando estarem fazendo uma grandiosa novidade...) ou repitam os feitos notáveis, mas podemos, individual e conscientemente, aprendermos com os exemplos de outras épocas (tendo o discernimento para compreender as eventuais diferenças contextuais e circunstanciais) tal como podemos aprender com a experiência que nos é transmitida por nossos familiares e pessoas próximas. Aliás, não é a História um grande conjunto de experiências pessoais? Não é a História Sacra narrada nas Escrituras um compêndio de bons e maus exemplos?
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