A primeira leitura da Missa de hoje do livro do Profeta Daniel nos relata o caso dos três jovens hebreus que se recusaram a cumprir o ímpio decreto de Nabucodonosor, rei dos caldeus e da Babilônia, que obrigava que todos se prostrassem em adoração diante de uma estátua de ouro do rei toda vez que fosse tocado o sinal pelas cítaras, saltérios e trombetas. Diante da firme intransigência dos três jovens, o rei encolerizado ordenou que estes fossem jogados em uma fornalha ardente. Então, a Escritura relata que os três jovens caminhvama livremente dentro da fornalha, acompanhados por um anjo, bendizendo a Deus com o hino Benedicite que a Igreja canta nas Laudes do Ofício Divino. Ao ver o que se passara, o rei pasmado acaba por expressar admiração pela fortaleza e fidelidade dos jovens hebreus, bem como bendiz a Deus que libertou seus servos da morte.
Chama-nos atenção a resposta que os ditos jovens deram ao rei quando neagaram-se a adorar o ídolo sacrílego: “Não há necessidade de te respondermos sobre isto: se o nosso Deus, a quem rendemos culto, pode livrar-nos da fornalha de fogo ardente, ele também poderá libertar-nos de tuas mãos, ó rei. Mas, se ele não quiser libertar-nos, fica sabendo, ó rei, que não prestaremos culto a teus deuses e tampouco adoraremos a estátua de ouro que mandaste fazer” (Dn 3, 16-18). Os três jovens simplesmente colocaram a fidelidade a Deus acima de tudo, confiando-se em Sua Providência sustenando que não trairiam o Deus verdadeiro mesmo que Ele não os livrasse da morte. Pois o que importa acima de tudo é a conservação da Fé e da Vida da Graça, que é o que nos conduz à Vida Eterna. Quando a fidelidade a Deus é ameaçada, devemos cultivar uma santa intransigência, tal como São Pedro e São João fizeram diante do Sinédrio confessando que "importa mais obedecer a Deus que aos homes". Sobretudo nos dias de hoje, diante da Cultura de Morte cada vez mais forte, devemos nos negar firmemente qualquer tipo de culto a esse Moloch moderno a quem os abortistas e hedonistas imolam seus filhos. A este Moloch nossa repulsa deve ser total, não devendo queimar-lhe um único grão de incenso sequer.
Coinscidentemente hoje a Igreja celebra a memória de Santo Hermenegildo, príncipe hispano-visigodo que fora aprisionado por seu pai, o herético ariano rei Leovigildo. Na Véspera Páscoa do ano de 585, o rei lhe enviou um bispo ariano para administrar-lhe a comunhão eucarística em sinal de reconciliação. Mas o santo príncipe em fidelidade a Fé Católica recusou-se a receber aquela comunhão sacrílega (posto que havia sido consagrada e administrada pelas mãos de um herético) e por isso foi decapitado por ordem do pai, recebendo assim a coroa do martírio (Cfr. São Gregório Magno. Dialogi, III, 31). Podemos dizer que a fidelidade de Santo Hermenegildo fora ainda maior que a dos três jovens do Antigo Testamento, posto que o príncipe visigodo teve de fato que renunciar a sua vida para conservar a fidelidade a Deus.
No Evangelho de hoje, Nosso Senhor nos exorta a sermos fiéis e que somente permanecendo na Verdade que é Cristo é que seremos livres: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8, 31-31). Seremos verdadeiramente livres quando crermos e confiarmos em Cristo, entregando-nos à Sua Vontade, então nada temeremos, pois sabemos que Cristo é a verdadeira Vida, sob a qual ninguém tem poder. Esta Verdade que é Cristo devemos confessá-La integralmente, com a nossa inteligência (crendo e prestando culto), com nossa vontade (praticando boas obras e dando bom exemplo) e com nossa sensibilidade (ordenando-a pelo sacrifício e pela vida de oração). Portanto, peçamos a Deus a graça da fortaleza e da fidelidade constantes, para que neguemos com sagrada e firme intransigência a todos os ídolos modernos (o aborto, eugenia, eutanásia, promiscuidade, relativismo, hedonismo, laicismo, materialismo) sem temermos as ciladas dos inimigos de Deus, pois se perdemos a nossa vida por causa do Reino de Deus, nós a ganharemos.
Benedicite spiritus et animae iustorum Domino benedicite sancti et humiles corde Domino.
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