terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Confundindo público e privado

Durante muito tempo, encarava-se de forma natural que a religião e o culto estivessem presentes na esfera pública e a sexualidade na esfera privada. Assim, sempre foi considerado normal que o ato conjugal fosse feito dentro de casa e considerado escandaloso manofestações sexuais em público, o que ofendia ao pudor. Igualmente, foi sempre considerado normal que, embora tivesse uma dimensão doméstica também, o culto religioso fosse manifestado publicamente. Isso porque a religião sempre fora vista não como uma questão de opinião individual, mas como uma comunidade ou conjunto de pessoas que compartilhavam de crenças em comum e as manifestavam em conjunto, para expressar a dimensão pública e comunitária de suas crenças. Desta forma, é natural que, mesmo nos povos e civilizações que não possuíssem o hábito de edificar templos, houvesse alguma forma de culto público. A sexualidade, como vimos, sempre foi considerada mais intimista e privada, dado o fato do ato conjugar a intimidade dos esposos. Mas há também outro aspecto: o caráter sagrado da geração da vida associada ao ato sexual. As coisas sagradas geralmente não são ostentadas de forma valgar, mas são, de alguma forma, velada (os antigos templos geralmente separavam o átrio dos fiéis do santuário propriamente dito e a própria palavra latina "profano", profanum, surgiu para diferenciar as coisas que encontravam-se para fora do santuário). Desta forma, a sexualidade era mantida no âmbito da intimidade, resguardando assim a diferenciação entre as esferas pública e privada.
A mentalidade moderna, devido ao laicismo e ao relativismo, inverte a tendência natural das sociedades humanas. O laicismo, querendo relegar o culto ao quartinho da dispensa, esquece-se de que as pessoas pensam e agem segundo todo o seu conjunto de convicções (inclusive às de natureza religiosa, e cabe aqui lembrar que a religião sempre abrangiu questões que iam muito além da simples queima de incenso para divindades). O relativismo  moral esquece-se que há certas coisas íntimas do ser humano que não devem ser expostas em público sem risco de importunar os outros membros da sociedade, com coisas que não lhes dizem respeito. É verdade que a sexualidade influencia nossas personalidades, mas isso não significa que tomemos todas as nossas decisões e atuemos sempre tendo em vista preferências ou o institnto sexual. Diferente das convicções filosóficas e religiosas que, exceto se formos hipócritas, costumam reger com unidade de vida todas as nossas ações.
Escrevi esta curta nota de natureza ensaística apenas convidando-nos a pensar e a rejeitramos a confusão entre público e privado a qual nos induzem o laicismo e o relativismo.

Um comentário:

  1. Nunca havia refletido sobre o assunto, mas de fato é verdade. É patente a inversão de valores. Particularmente penso que justamente por reconhecer um caráter sagrado no ato conjugal e pelo fato da sexualidade mexer diretamente com os sentidos e por isso conseguir obnubilar as consciências morais que a mentalidade moderna procura desfigurá-la tanto, vulgarizando-a e profanizando-a.

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